terça-feira, 27 de abril de 2010

Louvemos a democracia

Olívia de Cássia – jornalista

Democracia é uma palavra linda em seu significado, mas que está desgastada pelo seu uso indiscriminado. Nasceu na Grécia. Teoricamente, “é um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com o povo, direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos”, que na maioria dos casos, nem cumprem o que prometem e nem representam o povo como deveriam. Claro que há exceções.
No Brasil, a democracia sempre foi muito conturbada e difícil, é só pegar a história, desde a época da monarquia. Em rápidas pinceladas, passado o período da República da Espada, República Velha, Coronelismo, Getúlio, Juscelino e Jânio Quadros, o País viveu um período de vinte anos sob o manto da ditadura militar. Muita gente no Brasil nasceu e ficou jovem durante esse tempo.
No meu caso, quando a ditadura se instaurou no País eu estava com quatro anos de idade. Lembro vagamente que logo no início meus pais tinham medo. Não queriam nos ver na rua, com receio do que pudesse nos acontecer. Quanto mais eu leio, me informo e vejo filmes sobre aquele período ou qualquer outro que impeça a liberdade do ser humano e o direito de ir e vir, mais eu respeito, admiro e defendo a democracia, mesmo que ela ainda seja capenga em nosso Brasil.
Muita gente ainda age como se estivesse em um regime ditatorial. Não se acostumou com a liberdade. A gente lutou tanto por isso, mas nem assim as pessoas têm consciência disso. Muitas personalidades usam a palavra democracia para florear seus discursos, embora que na Prática e na sua rotina diária não a exerça como deveriam fazê-lo de fato. No fundo gostariam de impor suas vontades e ainda impõem como se fossem coronéis.
Em algumas cidades do interior do País os coronéis ainda dominam e a democracia passa ao largo, como se fosse história da Carochinha. Nosso Brasil é imenso, as diferenças e contrastes são de dimensões de continente.
Indo para outro país, estou lendo e quase terminando o livro “Resistência – A história da Mulher que desafiou Hitler”, da escritora Agnès Humbert. Uma história pessoal de uma intelectual francesa que viveu a dureza da guerra, a invasão francesa pelo exército de Hitler na década de 40. Leitura obrigatória para todos aqueles que defendem e praticam de fato a democracia e que defendem a liberdade acima de tudo.
Agnès faz um relato humano da brutalidade cometida num regime bestial como foi o nazismo. Trabalhou em regime de escravidão em fábricas têxteis durante o período da sua prisão. Com humor, inteligência e ironia, ela vai relatando a triste rotina daquelas mulheres. É um forte relato, dá uma revolta danada de ver e saber do que foi praticado durante tantos anos contra pessoas que sempre lutaram por uma sociedade livre e justa.
Em forma de diário ela vai descrevendo o dia-a-dia da prisão, onde as mulheres foram privadas de sua dignidade, por motivos tolos, sem direito até de tomar um banho e de ter sua privacidade reservada como a de fazer suas necessidades fisiológicas diante dos outros.
É um relato que comove pela força das palavras e que eu recomendo a leitura. A guerra é desumana e para os jovens que não viveram sequer um período privativo de suas liberdades e que hoje têm o direito de viver em liberdade e de dizerem o que querem e o que pensam, a leitura é obrigatória. Eu recomendo.

2 comentários:

Franco Maciel disse...

Mais um excelente texto de Olívia. Muito bom.

Madalena Sofia Galvão Viana disse...

Oi Olívia, muito bom o seu texto. Falar em democracia é abrir um leque de caminhos, até porque o próprio conceito está envolto numa atmosfera filosófica onde o objeto maior é o questionamento, muito mais do que as próprias respostas. Achei muito interessante a maneira que vc coloca o conceito de democracia e o descreve fazendo menção que assim o é “teoricamente”, frisa q a realidade é muito distante desse conceito. E realmente, se a gente for olhar de forma minuciosa uma maioria elege uma minoria que governará a maioria. No final das contas quem detém o poder diretamente das decisões é a minoria. Como há, ainda, uma distancia temporal pequena entre o regime autoritário com o atual, “ Muita gente ainda age como se estivesse em um regime ditatorial. Não se acostumou com a liberdade” e não se sente responsável pelas escolhas da minoria, não se sente representado, mas subordinado.
Acredito que a democracia ainda levará tempo para amadurecer em nosso país, mas mesmo assim, ainda é infinitamente melhor do que qualquer tipo de ditadura. “Louvemos a democracia”.
Abraços,

Sofia Viana

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