segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fujo de mim

Olívia de Cássia - jornalista

Venho buscando respostas para muitas incertezas. Quero fugir de mim, esquecer o passado, porque ele não volta mais, tal qual a água do rio em correnteza daquela bela história entre o homem e um rio.
Conta a lenda, que um homem muito apaixonado por um rio gastava longas horas vendo as águas do rio passar, carregando em seu dorso suave, folhas e histórias das cidades e isto lhe dava felicidade. Sua grande alegria era quando chegava a tarde, depois do trabalho.
O homem ia correndo para o rio, falava muito, confidenciava segredos àquele rio, dava gargalhadas, nunca ia embora, enquanto houvesse luz. E por muitas vezes só se deu conta que era noite quando a lua brilhava nas águas do rio. Ficava lá, remoendo lembranças, seus olhos só viam o rio.
Um dia, porém, o céu escureceu. Nuvens cobriram a terra a chuva desabou sobre o mundo. A cabeceira do rio foi enchendo e logo tudo virou correnteza. Árvores foram arrancadas folhas deram lugar aos galhos pesados, as barrancas desmaiavam e sumiam devoradas pela fúria das águas.
O rio cresceu, ultrapassou as margens, derrubou cercas, foi crescendo até chegar à casa do homem. Avançou o jardim. Margaridas e rosas desapareceram. Quando veio o sol, veio também a desolação. Tinha que recomeçar e como é difícil recomeçar.
Diz essa lenda também que o homem fez o que pôde, sem olhar em direção ao rio. Seu peito era uma amargura só. Sua cabeça não ficava em silêncio. Então falou: - Por quê? Por que fez isto? Eu confiava em você, tinha certeza que isto não iria acontecer. Havia muito amor entre nós...
Amor que não merecia acabar assim. Não é só a lama que está no jardim, é a confiança que nunca mais será confiança, o amor que nunca mais será amor, é o adeus que será para sempre adeus...
Foi inútil o rio tentar explicar. Nunca mais se encontraram. Nunca mais a lua cantou naquele lugar e as águas daquele rio, como o coração daquele homem, nunca mais foram os mesmos. O homem mudou-se para muito longe e o rio, quando passava por lá, tentava não olhar, mas sonhava, bem dentro, em suas águas mais profundas, um dia ver ali, debaixo do ingá, quem nunca deveria ter ido embora.. "
Da mesma forma que esta bonita história acima, às vezes eu queria voltar no tempo para poder refazer o meu caminho, mas isso não é mais possível. É um caminho sem volta, somos fruto das nossas escolhas. Por que passei a maior parte da minha vida alimentando ilusões?
O bom é a gente ser realista e ter os pés no chão. Saber que não podemos tudo, que somos tão pequenos diante das coisas de Deus. Ser humilde perante a natureza e com relação ao nosso próximo.
Ando divagando, querendo me encontrar e ser feliz. Não tenho mais tempo, o pouco que me resta é curto. Não preciso de muita coisa para ser feliz. Olho a estrada da janela do carro que faz o percurso de Maceió a União dos Palmares. As imagens se distorcem. Revejo paisagens já bem conhecidas, pessoas passam apressadas em busca de seus rumos.
Adiante a paisagem muda. De urbana fica mais rural. A viagem prossegue e eu busco respostas, respostas que estão guardadas no fundo do meu coração. De volta a Maceió a angústia me persegue, mas é preciso continuar, a vida continua e nós somos simples passageiros por aqui.

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