terça-feira, 29 de junho de 2010

O colégio

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira – bancário (*)

Em 1966, no mês de janeiro, estava eu quase que terminando as provas do Admissão ao Ginásio. Tinha passado em segundo lugar na quarta série, só perdendo pra Jorge, que morava no fim da Rua do Frei João. (O Jorge tinha barriga d'água, por isso o chamavam de Jorge buchudo) Passei direto, mas, mesmo assim, teria que fazer provas do Admissão (um pré-vestibular). Nessa época só era admitido ao ginásio quem, além de passar direto na 4ª série, passasse também no admissão.
Meu pai e minha mãe tinham um sonho com referência a minha carreira profissional; ser padre ou trabalhar no Banco do Brasil. A primeira opção, logo surgiu. Não sei como, mas, ela descobriu um colégio em Jaboatão dos Guararapes (Colégio Agrícola Pe. Rinalde, pertencente à congregação Salesiana) e para lá era que eu teria que ir; estudar para ser padre.
Perdi um ano na carreira estudantil, lá teria que fazer o admissão durante o correr do ano todo. Mas, fui sem contestar ( tenho comigo gosto pela aventura até hoje), e, emocionalmente, preparava-me para o feito.
Nesse colégio, já estudava uma turma de União dos Palmares. De conhecimento, tinha Emídio e os dois primos, Afonso e Edinaldo, que já estudavam no colégio. Pressenti que não sentiria muita saudade dos tempos da Rua da Ponte. Num dia de Domingo, partiríamos de trem para Recife. O trem saía de Maceió às 5 horas da manhã, chegava em União dos Palmares às 8 horas da manhã. Só não me lembro o tempo que levava para chegar em Recife.
O mês era fevereiro. Cheguei ao colégio muito antes do começo das aulas. Tinha ainda poucos alunos no colégio. Todos os dias chegavam mais novatos. Lá pelos meados do mês, o colégio já agregava um bocado de meninos, e nesses chegou uma turma do Ceará, e no meio deles, um metido a besta, que logo de cara não topei com o indivíduo.Diziam os amigos do antipático do Ceará, que o pai tinha muita posse (era rico), e por isso o cara era metido.
Os que iam chegando, logo iam sendo convocados pelos padres para a organização do colégio; limpeza do prédio, conservação do parque infantil, campo de futebol, salão de jogos e etc. Certo dia da semana, um dos padres encarregados pelo setor de recreação, nos convidou, e fomos todos para o campo de futebol para cortar o capim que estava alto. O meu material de trabalho era um facão rabo de galo (muito usado hoje pelos cortadores de cana).
Mas, certos casos só aconteciam comigo. Ainda possuía o destemor daquele menino que era respeitado pela maioria da Rua da Ponte, não sabia ainda como era a vida num internato. -O Cearense olhou pra mim e disse: - Todo alagoano é vagabundo e preguiçoso.
Na mesma hora, o facão rabo de galo foi acionado e o cara ficou sem o dedo mindinho. Correram todos pra separar aquela que seria uma briga bem infernal no começo da minha vida episcopal. Passei dois meses na solitária. Pra sair, só se fosse pra assistir a missa, comer ou estudar. Nada de brincadeiras.
Um dos padres, bem abusado, falou: - Você está pensando que isso aqui é um matadouro? Você é açougueiro? Vamos escrever para o seu pai e contar o que aconteceu. Esperaremos Pe. Antonio Ferreira chegar da Itália, e ver como é que fica a sua situação com relação a tua permanência ou não aqui no colégio.
Eu em meus pensamentos: “Meu Deus, o que será de mim se eu for expulso?” Mas, meu anjo é muito bom. Nesse colégio, tinha um padre que era quase um santo, o nome dele era padre . Manoel. Era tio de Antonio Manoel de Sá Cavalcante, de União e ele tinha um certo carinho por nós que fomos de União pra estudar lá. O padre. Manoel, em toda vida, só teve uma decepção; o sobrinho não quis ser padre, seguiu a carreira jurídica.
Quando terminou o castigo (saída da solitária), estava sendo vigiado em dobro. O difícil era suportar as galhofas dos outros sem poder tomar uma atitude, pois tinha prometido ao padre Manoel, que daquela data por diante, se nada acontecesse (ser expulso), eu seria um exemplo de comportamento.
A vontade dos meus pais com relação à carreira profissional realizou-se. Fui trabalhar no Banco do Brasil, onde passei 22 anos, e hoje, labuto na Caixa Econômica Federal. Os padres, ainda conseguiram me suportar por dois anos. (* É meu irmão mais velho)

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