segunda-feira, 7 de junho de 2010

VIDA

Petrúcio Manoel Correia de Cerqueira - bancário (*)

O tempo era de inverno. Mais precisamente no mês de junho de 1961. Essa época, um pouco remota, eu tinha seis anos. Sou o mais velho de quatro irmãos. Minha irmã, a mais nova, estava apenas com seis meses de idade. É a lembrança mais antiga que tenho da vida.
Minha mãe nos colocou pra dormir logo cedinho, umas sete horas da noite, antes que o gerador da prefeitura fosse desligado (o aparelho só trabalhava até as dez horas da noite). Naquela época, ainda não tínhamos energia de Paulo Afonso. Chovia intensamente. Morávamos na Rua Demócrito Gracindo, mas, era conhecida por Rua da Ponte. Fomos todos nos deitar. Quando deitado, ouvia a conversa de meu pai e minha mãe.
- Nêga (era assim que meu pai carinhosamente chamava por minha mãe), está chovendo muito, se continuar assim, vamos ter que levar os meninos pra casa de Osória (era minha tia).
- É, de vez em quando é bom ir olhar na porta que dá pra rua se tem gente se aglomerando em cima da ponte (era o sinal mais evidente que às águas do rio estavam subindo).
Notei, pela conversa que meu pai estava tendo com minha mãe, que a situação não estava muito boa.
- Nêga, acho melhor você aprontar os meninos, e logo em seguida nós irmos pra casa da Osória, tem muita gente olhando o rio em cima da ponte.
Minha mãe acordou os outros um pouco apressada, pegou a novinha (minha irmã), e fomos todos pra o outro lado da cidade.
Quando chegamos bem no meio da ponte, um gaiato gritou aos berros: - a ponte está caindo. Foi uma correria que Deus nos acuda. Não ficou ninguém. Só sei que meu pai, que estava com minha irmã novinha, tirou a distância que faltava pra atravessar a ponte num pulo só.
Passada a agonia da correria, estávamos todos sãos e salvos na casa da nossa tia. E o rio? Encheu mesmo pra valer. Se tivéssemos ficado em casa, a coisa teria sido pior. Mas, no interior, cada coisa tem Estória. É estória com “E” mesmo. E nessa enchente também teve a própria estória. Enquanto o nível das águas subia, era ouvido por todos um “assobio” forte.
Começou então a tradução para tal acontecimento. Teria sido uma moça prendada que caiu na desgraça e, como a mãe teria a expulsado de casa, a mesma, revoltada, teria dado uma surra na mãe. Como castigo, a moça virou serpente, e a enchente era pra levar pra bem longe a infeliz.
Baixou o nível das águas. Voltamos uns dois dias depois pra nossa casa. Quando chegamos lá, minha mãe não se conteve em lágrimas. O prédio da nossa residência estava todo avariado. Meu pai, sem avisar nada a ela, procura o seu Zé Cardoso (comerciante mais rico da época em União), e vende o prédio.
Quando foi avisada que tinha que ir ao cartório assinar a escritura, aí não prestou não. A mulher ficou braba igual a um escorpião. Só não chamou meu pai de bonito. Botou o pé na parede e não assinou nada de papel nenhum, quanto mais escritura. Nisso, o Sr. José Cardoso, que também era amigo do meu pai, ajudou o meu velho financeiramente e emprestou dinheiro para recuperar o prédio e sossegar minha mãe. (* É meu irmão mais velho)

Um comentário:

Rita Paes disse...

Deve ter sido o maior sufoco, mas, não d pra ler e não achar graça nesses relatos.
É incr´vel a memória dele, lembra até o mês em q aconteceu.

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