terça-feira, 23 de novembro de 2010

Novos ares

Olívia de Cássia – jornalista
(Primeira foto de Nádia Seabra)

Estou me sentindo renovada, energizada e feliz depois da longa caminhada e aventura que foi a ida até a Serra da Barriga, no dia da Consciência Negra, em União dos Palmares, no sábado passado.
Aquele lugar é mágico; uma onda de felicidade e coragem tomou conta de mim e não sei onde fui buscar tanta vontade para subir a serra, apesar das minhas limitações de saúde e da idade. Parecia que havia alguma coisa no ar. Uma força maior me levou até ali; eu precisava atender aquele chamado.
Chegamos ao topo da Serra da Barriga ao meio dia, com o sol queimando nossa pele, depois de ter percorrido ladeiras íngremes e presenciado aquela paisagem deslumbrante dos vales que se avista lá de cima.
Nossa terra é linda; não é à toa que o povo de Zumbi escolheu o local para instalar o maior e mais importante quilombo do País, o maior símbolo de resistência e luta pela liberdade.

Fotos de Olívia de Cássia
Na Serra da Barriga a gente respira isso, o ar de liberdade. Não há no mundo nada melhor do que isso: a nossa independência e disposição para fazer o que quer que seja sem amarras e sem impedimentos.
Desde os primeiros anos em que se iniciou a luta pelo tombamento da Serra e a visitação pública que costumo acompanhar as atividades do movimento negro em União. O professor Dilson Moreira foi o pioneiro dessa luta na nossa terrinha e é bom que a gente lembre sempre disso. Pena que não viveu para ver o Memorial construído.
No primeiro ano de atividade dos movimentos étcnicos que visitaram União dos Palmares, eu estava trabalhando na Usina Laginha. Lembro que foram para lá cerca de 20 ônibus da Salvador. Conheci alguns militantes da causa e dançamos a noite inteira de Avenida a fora.
Naquele dia a força e a beleza do povo negro tomaram conta da cidade, que ao som do Ilê Aye e outros grupos afros, percorreram a Avenida Monsenhor Clóvis, saindo da Rua Marechal Deodoro, em frente onde hoje é a prefeitura de União.
Lembro que naquele dia os comerciantes fecharam as portas com medo de saques e parece que houve alguns exageros, mas nada que me pusesse medo, pelo contrário, eu fiquei foi muito emocionada com aquela primeira iniciativa. Houve desfiles em trajes típicos pelas ruas da cidade.
Uma pena que naquela época que eu não tivesse uma boa máquina fotográfica para o registro daquele fato histórico. Mesmo assim, arrisquei umas fotos de péssima qualidade, mas registrei. A máquina fotográfica para mim é uma extensão do meu corpo. Hoje em dia não sei sair de casa sem levá-la para documentar o que gosto e me interessa.
Quando saí do jornal Gazeta de Alagoas adquiri minha primeira máquina profissional de filme com o dinheiro da indenização. E a partir daquela data não parei mais de documentar tudo o que vejo e a Serra da Barriga sempre foi para mim o grande símbolo de muitas lutas e de resistência. Já fotografei o local de vários ângulos e de cada um ela se apresenta de uma forma distinta.
Aquele solo é sagrado como dizia a primeira placa ali colocada. Ali repousam heróis do passado. Pessoas que lutaram pela sobrevivência do seu povo e pelo fim dos grilhões, pela vida e pela liberdade. Os espíritos iluminados que ali viveram parece que ainda pairam no ar da Serra da Barriga e foi isso que me deu tanta energia e disposição para recomeçar essa semana de trabalho. Zumbi vive. Viva Zumbi!

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