segunda-feira, 30 de maio de 2011

Desmontaram a fábrica

Olívia de Cássia – jornalista
(Texto e foto de arquivo)

Três anos me separam desde a última vez que estive em Fernão Velho para fazer uma matéria especial para a Tribuna Independente, sobre as atividades das mulheres trabalhadoras da Fábrica Carmen. O material terminou rendendo uma página inteira, mesmo o administrador não deixando que eu entrasse na fábrica.

Voltando ao local neste domingo, 29, verifiquei que a Fábrica Carmen fechou de vez, já tiraram tudo, todo o maquinário, segundo os moradores do local, e só resta o prédio.

Fernão Velho é um bairro bucólico de Maceió, está localizado num vale, entre a Lagoa Mundaú e uma parte da Mata Atlântica; já foi distrito, tinha vida própria em tempos atrás e tudo girava em torno da Fábrica Camen, da família Othon Bezerra de Mello, quando a indústria têxtil atingiu o seu auge.

Segundo contam os moradores do local, os bailes no Recreio Operário encantavam nativos e visitantes e o Sindacato dos Trabalhadores Têxteis era forte. O folclore e as manifestações culturais eram muito vivos e atraia a curiosidade de muita gente: jovens, velhor e crianças.

Lembro que minha tia Osória fazia muitas visitas a Fernão Velho, à casa de dona Andreza, sua amiga. Ia lá nos fins de semana e gostava do passeio. Quando viajávamos de trem e a locomotiva parava na estação do então distrito industrial, era uma efervescência de vendedores ambulantes que comercializavam de tudo, oferecendo seus produtos aos passageiros, inclusive o susruru retirado da lagoa.

A Lagoa Mundaú produzia o molusco em grande quantidade, que por sua vez era distribuído e consumido no interior. Hoje envenenaram e poluíram matando os peixes; a lagoa pede socorro, por conta da poluição e o sururu ainda é encontrado, mas em quantidade bem menor que antes.

A primeira vez que estive no bairro, de forma efetiva, foi no começo da década de 80, para fazer uma das primeiras reportagens sobre o bairro, para o Trabalho de Conclusão de Curso da faculdade.

Naquela época ainda estava erguido o prédio em ruínas do Cine-Teatro São José, que como a maioria dos cinemas do interior foi transformado em supermercado. Uma pena isso.

Quando a gente vai chegando em Fernão Velho, lá de cima da ladeira, a paisagem encanta, é deslumbrante. A Lagoa Mundaú está com as águas barrentas e com muita água, devido as chuvas que caíram no interior, aumentando ainda mais sua beleza, apesar da cor da água.

Estou devendo para mim uma matéria checando o encontro das águas do Mundaú com a lagoa. O nível de poluição é muito alto. Conversando com alguns moradores a gente percebe como o local está maltratado diante do que já foi em outros tempos.

Os moradores relatam ainda que Fernão Velho já teve até moeda própria e a limpeza de ruas e praças era feita por funcionários da fábrica.

Também na mata de Fernão Velho há várias nascentes, mas estão sendo constuídos condomínios de luxo ao redor, que estão pondo em risco os mananciais. Além disso tem criação de jacaré do papo-amarelo no ABC e fabricação de vinagre com mel de abelha, que é exportado.

Passei a manhã e tarde de ontem no local e me senti em casa. Uma pena que nossos valores culturais estão abandonados e a maiora dos gestores só lembram de fazer alguma atividade em época de campanha eleitoral.

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