domingo, 15 de maio de 2011

Por causa da rebeldia ...

Olívia de Cássia – jornalista

Por causa da minha rebeldia eu cometi alguns desatinos. Fui desobediente, queria mudar o mundo, amei quem não devia e achava que as minhas amizades e aquela vontade de vencer na vida fossem transformar o mundo.

Foi por causa desse meu jeito de ser e desse inconformismo exagerado que adotei filosofias de vida. Os jovens da minha geração queriam sair de casa logo, para enfrentarem a vida, ter experiências novas; muitos deles fizeram assim: saíram da casa dos pais e foram à luta. A maioria se deu bem, outros quebraram a cara.

Saí de União dos Palmares, pela primeira vez, aos 16 anos, para fazer o segundo grau, na Escola Moreira e Silva, no Cepa. Ganhei bolsa de estudos da esposa do ex-prefeito Eziquio Correia, conseguida pelos esforços da minha mãe.

Vim morar em Maceió, para fazer o primeiro ano científico, aqui mesmo, na rua onde moro, a Vieira Perdigão. Era o ano de 1976, em plena ditadura militar, mas os jovens da minha geração, em sua maioria, não se importavam muito com isso.

Mamãe havia alugado uma casinha simples, de acordo com nossas posses, para que os filhos pudessem terminar os estudos e prestar o vestibular, já que naquela época em União só tinha o curso pedagógico, para ensino de primeira a quarta série e eu não queria ser professora.

Talvez se eu tivesse seguido a carreira, já que depois terminei me formando professora, quem sabe eu na teria uma vida mais segura. Às vezes a vida nos leva para outros caminhos que não aqueles que queremos e termina dando certo. Não foi o meu caso.

Sempre gostei de estudar, minha única reprovação tinha sido uma vez, no Admissão, prova que dava acesso ao ginásio e era uma espécie de vestibular daquela época e as provas eram difíceis.

Dona Antônia Correia, minha mãe, já alugara a casa para meus irmãos Petrúcio e Petrônio estudarem.

Com a saída do meu irmão mais velho da casa, que passou no concurso do Banco do Brasil, ficamos eu e Petrônio e depois a conterrânea Maria José Cavalcante, filha de seu Zuzinha do Muquém, foi morar conosco também por algum tempo.

Ela estudava no Sagrada Família, uma das melhores escolas particulares de Maceió, naquela época, onde estudavam pessoas da classe média e alta de Alagoas.

Dividíamos as tarefas da casa e o tempo que me restava era para os estudos e ir à praia, que naquela época era a da Avenida, uma das mais freqüentadas, principalmente os jovens vindos do interior, que moravam, a maioria, no Prado, no Centro, no Trapiche e imediações.

Já naquela época eu fazia muitos planos para a minha carreira e a minha vida. Queria me formar, ter uma vida diferente, ganhar meu dinheiro e não depender dos meus pais. Também era de me apaixonar perdidamente pelos meus paqueras e sofria muito por isso.

Meu primeiro vestibular eu fiz para medicina, por vontade da minha mãe, que queria ter filho médico, padre, ou que a filha seguisse carreira religiosa, como era da vontade também do meu pai e dos meus avós.

Da mesma forma que não tive capacidade para ser aprovada em medicina, perdi também outros vestibulares, mas nunca desisti. Dizia para mim e para as amigas que vestibular era que nem carnaval, tinha todo ano.

Apesar de ser estudiosa e gostar muito de leituras, não deixava de ir às festas, sempre fui muito festeira mesmo e se meus pais quisessem me proibir de ir para qualquer diversão, eu me rebelava, insistia, até conseguir meu intento.

Os jovens, já há algumas gerações, não querem mais sair de casa; têm tudo nas mãos, não contestam nada e ficam na casa dos pais até já velhos ou casarem.

Uma vez, minha mãe, com muita raiva de mim, disse que era melhor ter tido uma filha que fosse analfabeta, mas que lhe fizesse companhia e tomasse conta dela. Na época fiquei triste, mas hoje eu entendo o que ela queria dizer.

O tempo passou, ainda falta muito para que eu me sinta realizada, apesar de amar a profissão que escolhi. Falta-me segurança, conforto e muitas vezes me vejo inquieta tal qual na adolescência e juventude. Mas o tempo de agora é outro, já passou para mim. Não sei se ainda tenho alguma chance de ser feliz.

Um comentário:

Anônimo disse...

É claro. Felicidade anda sempre nos perseguindo, nós, é que nos desviamos d'ela.

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