quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Anajô distribui Carta de apoio a Mestre Cláudio

Foto de Olívia de Cássia - arquivo
O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, organização não-governamental sediada em Maceió-AL, associada à entidade nacional Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs), distribuiu por e-mail na noite desta quinta-feira, 1º, uma Carta de Apoio ao Mestre Cláudio, representante do Escritório da Fundação Palmares em Alagoas.

A entidade justifica a iniciativa dizendo que o professor Cláudio tem sido alvo de várias denúncias, inclusive de xingamentos pessoais por alguns meios eletrônicos de União dos Palmares.

No documento, entidade observa que Severino Claudio de Figueiredo Leite, o mestre Cláudio, “tem se empenhado em manter o diálogo com os diversos segmentos sociais, sua indicação para ficar à frente do Escritório recebeu o apoio de entidades de diversos segmentos afros e autoridades.

Segundo a entidade, mesmo diante das dificuldades burocráticas enfrentadas quanto às questões de infraestrutura do Parque Memorial, a falta de pavimentação da estrada de acesso para a Serra da Barriga e a omissão do governo estadual quanto ações de marketing e divulgação, “Mestre Claudio fez tudo que estava em seu alcance para atrair o público amplo e heterogêneo, além de garantir a valorização do ponto turístico”.

“Queremos salientar que o Anajô não está fazendo uma defesa simplesmente por fazer, e sim, devido ao acompanhamento que desenvolvemos desde a nossa rearticulação em 2005. Fomos uma das entidades que mais se manifestou a favor da Serra da Barriga – Monumento Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico – para garantir a preservação da fauna e flora nativa; execução de expressões afro-culturais; propagação da história; e o desenvolvimento do turismo étnico-cultural no Estado”, diz a carta, que está assinada pelo Centro de Cultura e Estudos Étnicos - Anajô /APN-AL.

Abaixo a Carta, na íntegra...

Anajô distribui Carta de apoio a Mestre Cláudio

CARTA DE APOIO – MESTRE CLAUDIO FIGUEIREDO

O Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, organização não-governamental sediada em Maceió-AL, associada à entidade nacional Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) tem acompanhado vários emails e publicações em blogs sobre a insatisfação de quilombolas quanto a atual gestão do escritório representativo da Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura no Estado de Alagoas, além de denúncias de abandono do Parque Memorial Quilombo dos Palmares localizado na Serra da Barriga no município de União dos Palmares. Porém o que nos chama atenção não são as críticas, e sim, as formas agressivas e a distorção dos fatos.

Viemos a público manifestar apoio ao Senhor Severino Claudio de Figueiredo Leite: funcionário público, professor de Educação Física, massoterapeuta, mestre de capoeira, ogãn, ativista do movimento negro há mais de 30 anos e que atualmente encontra-se como representante do Escritório Estadual. Homem simples, comprometido com a igualdade étnicorracial e no combate da intolerância religiosa, e que tem se empenhado em manter o diálogo com os diversos segmentos sociais, instituições públicas e privadas em busca da concretização das ações afirmativas.

Mestre Claudio assumiu a gestão do Escritório representativo no dia 26 de março de 2010, e sua indicação recebeu o apoio de entidades de diversos segmentos afros e autoridades. A solenidade de posse coincidiu com a inauguração da sede do escritório, também serviu para anunciar que naquele ano, a Fundação Cultural Palmares utilizaria R$ 200.000 reais para a reforma do Parque Memorial que garantiria a ampliação do restaurante Kúuku-Wànna, construção da área destinada para os ambulantes e a restauração dos espaços contemplativos – declaração realizada pelo presidente da época, Zulu Araújo.

O fato é que nos dois primeiros meses de atuação era necessário estabelecer a infra-estrutura adequada para o funcionamento do escritório e selecionar a equipe de trabalho. Em junho de 2010, vários municípios alagoanos foram arrasados pela enchente, inclusive, famílias quilombolas das comunidades Muquém (União dos Palmares), Filús e Jussarinha (Santana do Mundaú) passaram por sérias dificuldades. Mestre Claudio conquistou o respeito e a admiração dos quilombolas, era carinhosamente chamado como “o homem do carro branco”, pois com o veículo oficial da FCP levava os donativos da campanha que ele executou junto ao movimento negro e as cestas básicas do Governo Federal, além disso, o escritório serviu de abrigo para os desabrigados a exemplo de quilombolas, pessoas da comunidade, agentes florestais que trabalham na Serra, inclusive, o próprio Mestre Claudio que perdeu todos os pertences na casa que residia.

Em relação ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares instalado em 2007, mesmo apresentando limpeza impecável, não é possível esconder a deterioração dos espaços contemplativos que desde a sua instalação são expostos cotidianamente ao sol, chuva, sereno e vento. A cobertura vegetal anda seca e ao ser tocada esfarela nas mãos; as placas estão sujas e algumas danificadas; assentos cobertos de musgos e a madeira ficando podre; e os áudios em quatro idiomas que não estavam funcionando são fatores que causam desânimo para qualquer visitante. Porém, por mais que o gestor faça as devidas cobranças em relatórios destinados aos seus superiores reafirmando a necessidade de manutenção, não existe uma dotação orçamentária específica para atender as demandas, assim como, por se tratar de uma área tombada nada pode ser alterado sem que haja a aprovação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) e da Fundação Cultural Palmares.

Mesmo diante das dificuldades burocráticas enfrentadas quanto às questões de infra-estrutura do Parque, a falta de pavimentação da estrada de acesso para a Serra da Barriga e a omissão do Governo estadual quanto ações de marketing e divulgação. Mestre Claudio fez tudo que estava em seu alcance para atrair o público amplo e heterogêneo, além de garantir a valorização do ponto turístico, a exemplo: das aulas gratuitas de capoeira para crianças e adolescentes que residem na Serra e nas adjacências; o encerramento do Encontro de Motoclubes; o 1º Mulheres Replantando o Axé; etc.

Queremos salientar que o Anajô não está fazendo uma defesa simplesmente por fazer, e sim, devido ao acompanhamento que desenvolvemos desde a nossa rearticulação em 2005. Fomos uma das entidades que mais se manifestou a favor da Serra da Barriga – Monumento Histórico, Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico – para garantir a preservação da fauna e flora nativa; execução de expressões afro-culturais; propagação da história; e o desenvolvimento do turismo étnico-cultural no Estado. Estivemos sempre atuantes, cobrando e apresentando propostas, sem a intenção de sermos personalistas ou com o intuito de manchar a Fundação Cultural Palmares. Dentre as ações destacam-se:

Desde 2007 realizamos encontros de formação e várias etapas do projeto Palmares in loco na Serra da Barriga com o intuito de propagar a história do Quilombo dos Palmares, organização sócio-político-econômica e vitalizar o Parque Memorial Quilombo dos Palmares (PMQP).
Realizamos dois encontros estaduais sobre a conjuntura da Serra e a importância do PMQP, nos anos de 2007 e 2008, respectivamente, com a presença dos gestores da FCP e o Secretário Estadual de Turismo Virgínio Loureiro.
Em janeiro de 2009, fomos conferir os estragos do incêndio que atingiu a Serra da Barriga. Fizemos o registro fotográfico das consequências da queimada que atingiu cerca de 20 hectares, destruiu várias plantas nativas e que esteve 60m próximo de atingir o Parque. Fizemos questão de divulgar em âmbito nacional a necessidade de ter maior acompanhamento da FCP e a necessidade de instalar um escritório para que a atuação não ocorresse apenas no mês de novembro.
Trabalhamos de forma efetiva junto ao Fundo das Nações Unidas pela Infância (Unicef) para o lançamento da Campanha Nacional “Por uma infância sem racismo”, que ocorreu em dezembro de 2010 na Serra da Barriga.

Em suma, temos consciência que independente de quem esteja no cargo, os julgamentos serão frequentes e as dificuldades existirão. A Serra da Barriga é considerada um solo sagrado e de resistência negra, espaço de contemplação e homenagens aos guerreiros do Quilombo dos Palmares – negros, brancos e indígenas, homens e mulheres – que estiveram juntos na luta por justiça social! Todos nós temos o dever de cuidar e cobrar a valorização deste patrimônio internacional!

Atenciosamente,

Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô /APN-AL

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