sábado, 28 de janeiro de 2012

Deputado JHC diz que faltam novos líderes na política

Fotos de Olívia de Cássia
Olívia de Cássia – Repórter

João Henrique Caldas (PTN) completou 24 anos, está em seu primeiro mandato como deputado estadual e tem provocado alguns incômodos na Assembleia Legislativa pelos posicionamentos de independência que tem assumido e pela postura crítica que tem adotado com relação à Mesa Diretora da Casa de Tavares Bastos.

Filho do ex-deputado federal João Caldas e da prefeita de Ibateguara, Edócia Caldas, o jovem deputado diz que acredita na juventude e na revolução social que as mídias eletrônicas têm causado no mundo e avalia que a sociedade passa por um momento de mudanças. Em entrevista exclusiva ele disse que a sociedade atual anda acéfala, sem grandes líderes humanitários.

Segundo João Henrique, em Alagoas, por exemplo, os líderes políticos são pessoas ou grupos que estão há duas ou três décadas no poder.

“O povo está descrente deste tipo de liderança. Este ano de 2012 teremos eleições municipais, na maioria das cidades existem dois lados onde um é o grupo de situação representado pelo prefeito ou prefeita atual, e outro lado é representando pelo ex-prefeito do município. Será que existem apenas duas pessoas capazes de conduzir com probidade e competência os destinos do município?”, indaga o deputado. Parte dessa matéria foi publicada no jornal Tribuna Independente, edição deste domingo, 29. Leia abaixo a entrevista na íntegra.

O senhor tem se destacado no parlamento alagoano, em seu primeiro mandato, com apenas 23 anos. A que atribui isso?

João Henrique Caldas - Acredito que como jovem represento uma parcela significativa da sociedade alagoana. De acordo com o IBGE, cerca de 28% dos alagoanos possuem entre 15 e 29 anos. Desde minha campanha consegui interagir melhor com esse público, jovens que assim como eu estavam ávidos por renovação e mudança. E principalmente pelo meio de relacionamento que adoto, como todos de minha geração, a Geração Y, aqueles que são adeptos as novas tecnologias e os meios de comunicar-se entre si através das mídias sociais. Utilizo sempre o Facebook e o Twitter, isso permite nos aproximar de várias pessoas simultaneamente e em tempo real sentir qual o anseio de sociedade, das classes formadoras de opinião. Ah, Olívia, só para correção, eu já fiz 24 anos.

Como avalia a falta de interesse da população por questões políticas, sociais ou econômicas?

JHC - Infelizmente a população alagoana, e o brasileiro como um todo, cansou um pouco de debater política e suas nuances. Pelo que a história diz, no ano que nasci (em 1987), o Brasil estava saindo de uma ditadura, a população ia com frequência às ruas clamar pelo voto direto, um direito imprescindível da democracia, uma vitória da população brasileira. Mas após isto, a sociedade perdeu aquele ímpeto de ir às ruas reivindicar seus interesses. Hoje, infelizmente, vemos em todo lugar estampar-se manchetes de corrupção, malversação de recurso público, ataque ao erário. A sociedade se acuou, perdeu o desejo de retornar às ruas e bradar por justiça. Hoje vemos o poder de articulação e mobilização que se tem nas redes sociais, porém, é uma maneira virtual de protestar, o povo tem de voltar a se reunir. Seja nas universidades, nas igrejas ou em plena praça pública. O desejo do individual tem de se tornar coletivo. Ainda creio nessa transformação, acredito que essa nova geração tomará atitudes moralizadoras, é questão de tempo. Vimos isso há menos de um ano no Egito e na Síria. O povo brasileiro possui um espírito mais arrojado que os países do Oriente Médio; acredito na juventude.

As religiões e a defesa da liberdade de costumes (passeata gay) levam milhares de pessoa às ruas, mas ainda não surgiu uma palavra de ordem com capacidade de mobilização na sociedade. A que o senhor atribui isso?

JHC - É como vínhamos falando agora há pouco, há hoje um fenômeno interessante nas redes sociais. Quando as pessoas se propõem a retwittarem no Twitter ou curtirem no Facebook, a sociedade em peso toma a decisão em questão de segundos, no conforto do lar ou do trabalho, clicando um botão no computador ou no smart phone. Mas quando é para reunir uma grande quantidade de pessoas em torno de um mesmo ideal nas ruas, aparecem poucos. A sociedade passa por um momento de mudanças, o mundo está em crise política e econômica e o Brasil figura numa posição confortável. A sociedade atual anda acéfala, sem grandes líderes humanitários. Esse espírito de liderança, motivação e condução de unir as massas. Em Alagoas, por exemplo, vemos que os líderes políticos postados são pessoas ou grupos que estão há duas ou três décadas no poder. O povo está descrente deste tipo de liderança. Este ano de 2012 teremos eleições municipais, na maioria das cidades existem dois lados onde um é o grupo de situação representado pelo prefeito ou prefeita atual, e outro lado é representando pelo ex-prefeito do município. Será que existem apenas duas pessoas capazes de conduzir com probidade e competência os destinos do município?

Os temas que dominam a mídia quase todo o dia nas primeiras páginas de jornais, como a crescente onda de violência, não conseguem mobilizar a população de forma que a leva a fazer grandes protestos. Comente.

JHC - A violência era 'privilégio' de grandes cidades, hoje atinge as pequenas cidades também. No caso do crack que está presente em 90 dos 102 municípios alagoanos, a violência se alastrou por todo o estado. Hoje somos o estado mais violento da federação. Há também o caos generalizado na saúde pública, vemos corriqueiramente a maternidade Santa Mônica em Maceió fechar as portas por falta de leitos, outro grande hospital de Maceió prestes a fechar as portas. Há o fator educação, temos a pior taxa da alfabetização do país, somos os campeões no analfabetismo, e por mais que esse número reduza continuamos na última posição. Ainda, a desigualdade de renda, onde mais da metade da população vive com menos de um salário mínimo. Esses índices nos perseguem há anos, na década de 70 diziam que Alagoas era "o filé do Nordeste", comeram o filé e deixaram o osso. Todos os dias, jornais, sites, revistas, a televisão e o rádio mostram o caos instalado em Alagoas e a população vive um clima de comodismo em sua grande maioria. Porém acredito na inquietude de alguns. Creio que esse tipo de revolução social, de mobilização em grande quantidade de pessoas ocorre de forma gradativa. Essa é a minha esperança. Sei que sozinho não mudarei o mundo, mas fazendo a minha parte na atuação na Assembleia, espero resgatar a esperanças de alguns alagoanos.

Como vê o desinteresse da maioria dos jovens pela política?

JHC - É lastimável ver um jovem desinteressado pelo futuro, porque discutir política significa discutir o futuro. Costumo dizer que nós os jovens é quem colheremos os frutos das sementes plantadas pela sociedade atual. Na Assembleia sempre me refiro a minha geração como reverência ao futuro. Tento trazer à tona discussões por temos atuais que atingem diretamente a juventude alagoana. Sei que tem muito jovem desinteressado, mas vejo que tem muito jovem consternado querendo necessário na política, seja por mandato eletivo ou simplesmente por militância. O meu Partido, o PTN (Partido Trabalhista Nacional), tem uma característica peculiar, tivemos um número de filiações de jovens que correspondeu a mais de 50% dos filiados para 2012. Ou seja, isso significa que nosso partido, o PTN é o partido da renovação política do estado. Teremos candidatos a prefeito e vereador com menos de 30 anos em 73 cidades de Alagoas. Eu aposto nisso. Um fator preponderante são as mídias sociais e os blogs. Vejo que em pequenas cidades do interior tem sempre um jovem ou um grupo de jovens começando a postar mensagens e ideias políticas de relação na rua e na cidade onde moram. Esse é o recomeço de uma nova história que a geração Y irá escrever.

O que acha que está faltando para que a sociedade volte às ruas para exigir direitos e protestar contra irregularidades, como fazia na época da ditadura militar?

JHC - Na época da ditadura havia opressão militar. Hoje existe uma amplitude na liberdade de expressão. Creio que houve diversas mudanças no mundo desde a década de 80, com o fim da ditadura. Na verdade, aquela época, quem mais ia às ruas eram jovens estudantes e universitários; o clamor era trazido à sociedade pela juventude. O tempo passou e o mundo se modernizou. Hoje temos um batalhão de jovens se mobilizando através das mídias sociais. Temos uma quantidade infinda de jovens que trocam informações pelo mundo todo através do aparelho celular. Quando esses jovens nasceram, nem sequer existia celular. Portanto, a revolução da próxima geração de líderes deve ser iniciada no mundo virtual, e eu acredito que já houve esse início. Ano passado, no Egito, foi o Twitter que iniciou a maior revolução do século naquele país, a sociedade brasileira amadurece e caminha para isto. Eu aposto neste tipo de revolução, será uma revolução orquestrada, sistematizada e contará com jovens que através da internet tem informação de tudo que aconteceu na história do país, portanto, creio que a história sempre se repete de forma aperfeiçoada, e será assim com a minha geração.

Está faltando liderança política no Estado e no País? O que o senhor acha disso?

JHC - Como falei anteriormente, desde as pequenas cidades do interior até a nação Brasileira vemos apenas dois lados no jogo eleitoral onde um é a situação e outro grupo é a oposição que perdeu o poder e quer resgatá-lo. Na verdade, necessitamos da reforma política urgentemente. Precisa-se discutir tal reforma. Mas antes de tudo sei que a política é cíclica, naturalmente, a sociedade muda seus lideres. Costumo dizer que a sociedade está acéfala, e a forma de surgirem novos lideres será naturalmente. O mais importante é que a inovação tecnológica fará com que a sociedade permaneça cada vez mais vigilante, assim, obrigando os novos lideres a serem probos, honestos, capazes, eficazes.

Qual a avaliação que o senhor faz da atuação dos parlamentares com relação a todas essas questões que estão saindo na mídia? Há interesse dos políticos em conscientizar a juventude sobre as questões que estão sendo discutidas no País?

JHC - Lógico que sim, a juventude representa um terço da população. A cada ano os eleitores que darão seu primeiro voto vêm com um espirito de caráter fiscalizados, mais severo. Então é natural que a juventude seja o foco de manobra da mídia. O que os grande veículos de comunicação têm de entender é que houve um fortalecimento intenso dos blogs como fonte de informação, o que tem seu lado positivo no tocante à independência editorial, quando o blogueiro que for subserviente a um determinado grupo político perde leitores, assim exigindo imparcialidade dos blogueiros. Porém o lado negativo é a falta de capacitação do blogueiro, que deveria por essência ter formação jornalística, respeitando apuração das informações para que não criem-se boatos através das redes sociais.

A Assembleia Legislativa está novamente na berlinda, depois de o senhor ter apresentado requerimento solicitando explicações sobre a GDE, que avalia como ilegal. O que o senhor tem a dizer sobre isso? Comente.


JHC - Apenas pedi, via Ofício, informações acerca do repasse das gratificações que estavam sendo depositadas nas contas de meus assessores. Desde o primeiro momento avaliei a forma como isto ocorria. Tanto eu quanto o assessores lotados em meu gabinete achamos por bem aguardar da Casa um posicionamento sobre as gratificações. Neste tempo houve decisões judiciais que anularam a GDE através de uma Ação Civil Pública ingressada pelo Estado. A devolução ocorreu por consequência de tudo isto. Quanto a Assembleia estar 'na berlinda' não sou eu quem tem que julgar. Meu dever como deputado é fiscalizar, exigir ações por parte do Executivo e principalmente, debater no parlamento as formas e meios de promover melhorias para a sociedade. Gosto de legislar, fazer leis que beneficiem diretamente a cada um dos alagoanos; tenho prazer nisso.

O que fará se depois do prazo de 30 dias não obtiver resposta do seu requerimento?

O requerimento foi respondido no dia limite. Era 30 de dezembro, a Assembleia estava em recesso desde o dia 15. Todos os gabinetes estavam fechados, mas mesmo assim determinei que minha assessoria fizesse uma escala de plantão para os trabalhos no gabinete visando também o recebimento da resposta. Estive com o Ministério Público no dia 18 de janeiro, lá entreguei a resposta que recebi da Assembleia e alguns outros documentos. Agora aguardo o posicionamento do MP. Como deputado fiz minha parte, agora aguardo os promotores. Acredito no Poder Judiciário e tenho certeza que o Ministério Público fará sua parte atendendo o desejo da sociedade Alagoana.

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