segunda-feira, 14 de maio de 2012

Treze de maio no Brasil

Fotos de Olívia de Cássia
Olívia de Cássia - jornalista

Neste domingo, 13 de maio, oficialmente comemorou-se o Dia da Abolição da escravatura no Brasil, decreto que foi assinado pela princesa Isabel em 1888, a chamada Lei Áurea. Mas nos dias de hoje, o movimento negro não reconhece a data como o dia da libertação dos escravos e comemoram no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, quando se homenageia o herói da liberdade, Zumbi.

Explica-se o início da escravidão no Brasil pelo seguinte fato: na época em que os portugueses começaram a colonização do Brasil, não existia mão-de-obra para a realização de trabalhos manuais. Conta-se que os colonizadores procuraram usar o trabalho dos índios nas lavouras; mas esta escravidão não foi levada adiante, pois os religiosos se colocaram em defesa dos índios condenando sua escravidão.

Os portugueses passaram a fazer o mesmo que os demais europeus daquela época. Diz a história que eles foram à busca de negros na África para submetê-los ao trabalho escravo em sua colônia. "Deu-se, assim, a entrada dos escravos no Brasil". E uma longa história de maus-tratos, preconceitos e perseguições.

Os negros, trazidos do continente Africano, eram transportados dentro dos porões dos navios negreiros, sem higiene, sem dignidade. Devido às péssimas condições deste meio de transporte, muitos deles morriam durante a viagem, de maus-tratos ou de saudade da sua terra. Após o desembarque eles eram comprados por fazendeiros e senhores de engenho, como se fosse animais vendidos na feira.

Os escravos viviam em senzalas, onde ficavam presos quando não estavam trabalhando, e eram responsáveis por todo trabalho braçal realizado nas fazendas. Trabalhavam de sol a sol e não tinham quase tempo para descansar.

A vida útil do escravo adulto não passava de dez anos (por causa da dureza dos trabalhos e precariedade da alimentação) e seus filhos eram seus substitutos. Zumbi se insurgiu contra esses maus-tratos e formou um exército de mais de 30 mil negros, brancos e índios fugidos, na Serra da Barriga, em União dos Palmares.

Há uma longa discussão a respeito do tema da abolição nos dias de hoje e a assinatura da Lei Áurea não se deu porque a princesa Isabel fosse boazinha ou abolicionista, mas sim pela pressão e pela conjuntura que se apresentava à época.

Quando éramos crianças aprendemos uma história do Brasil baseada na visão do colonizador e víamos a princesa com outros olhos. Quando fomos crescendo e absorvendo o verdadeiro sentido daquele ato, fomos entendendo muito mais a respeito das nossas raízes africanas.

Hoje em dia existe muito mais consciência na sociedade brasileira e os povos de outras cores de pele são mais respeitados. Mas ainda existe muito preconceito sobre isso e é preciso que haja mais consciência de que a sociedade brasileira precisa reconhecer seus erros e a importância da negritude para o continente.

A escravidão e o preconceito são páginas tristes e lamentáveis da nossa história. Foram os escravos que produziram todas ou quase todas as riquezas da América. Alguns estudiosos acham que a substituição do índio pelo negro nos trabalhos pesados se deu pelo fato de os africanos se adaptarem melhor ao tipo de trabalho realizado na colônia.

“É importante ressaltar, que o vergonhoso comércio de escravos representou uma excelente alternativa econômica para a Europa e trouxe muitos lucros para os europeus. A escravidão do negro era mais rentável do que a do índio, por isso valia a pena o alto custo do investimento”, diz um texto da Revista Nova Escola.

Nessa história toda, as mulheres negras foram e ainda são as mais discriminadas em todo esse processo, infelizmente. A maioria é negra e pobre e vive nas favelas e periferias das cidades.

Na época da escravatura, gerações de mulheres negras foram submetidas a todo tipo de maus-tratos e atos de submissão sexual, obrigadas a deitar com quem os maus feitores quisessem ou os senhores de engenho determinassem, inclusive com eles.
Essas mulheres não tinham sua individualidade reconhecida e eram vistas como animais procriadores.

“A trajetória de algumas mulheres negras, já com idade avançada e acometidas de várias doenças causadas pelas condições desumanas de trabalho, pelas péssimas acomodações e pouca ou nenhuma alimentação adequada, levaram-nas a mendigar junto às portas das igrejas, na esperança de que a fé pública pudesse a elas abrandar o sofrimento e o descaso”, escreve Deise Benedito, coordenadora de Articulação Política e Direitos Humanos da Fala Preta Organização de Mulheres Negras; secretária do Fórum Nacional de Mulheres Negras; integrante do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial - CNPIR.

Segundo Deise Benedito, outro fator essencial para a sobrevivência pós-abolição foi a religiosidade que modelou a cultura brasileira. “Muitas dessas mulheres passaram a assumir a liderança das comunidades socioreligiosas afro-brasileiras. Essas mulheres eram detentoras do poder de lidar com a força divina dos Orixás e de seus ancestrais”, destaca.

Portanto, diante de tantos fatores que ainda envergonham a nossa sociedade, por causa da escravidão de tantos séculos, precisamos refletir o nosso lugar na história e lutar pelo fim do preconceito racial e pela valorização e respeito dos povos que fizeram e fazem a nossa história. Zumbi vive em cada um que luta contra o preconceito e a discriminação.

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