segunda-feira, 9 de julho de 2012

Meu Pai

Petrúcio Cerqueira - bancário

Na década de 20, em 16 de abril do ano de 1921, num local inóspito, conhecido por "Cafuxi", nascia o filho mais novo do casal Sr. Jonas Rosa de Cerqueira e Rosa Correia de Cerqueira, João Correia de Cerqueira, conhecido mais adiante do tempo em União dos Palmares-AL, pelo nome de "João Jonas".

O Cafuxi, era uma gleba de terra que pertencia à família do meu avô paterno. Em outra parte, mais precisamente perto da Barriguda, ficava a outra gleba que pertencia ao meu avô materno; e, mais uns quilômetros depois ficava a Jitirana, que uma parte pertencia ao irmão do meu avô materno, o José Paes, avô de Edvard "Véve´", que é irmão de Nilda, de Nete, de Nilza, de Nado e Soninha.

Veio o batizado. Como era de costume antigamente, o padrinho do rebento teria que ser alguém de poder político e financeiro da região. O meu avô estava com um dilema: quem escolheria? O major Ozéas, do Cafuxi, ou, o major José Cula, do Timbó? Depois de decidir-se, não sei o motivo, o major José Cula fez o batizado do João na igreja do Timbó!

O João não teve muita sorte na infância. Perdeu a mãe logo cedo, foi criado pela madrasta, que logo depois ganhou três meio- irmãos. Para alimentar-se razoavelmente, tinha que se aventurar nas caçadas e nas frutas da região, pois em casa (comentários do meu pai) não era servido o necessário para as calorias exigidas no dia-a-dia, principalmente ele, que tinha que trabalhar mais que os outros.

A infância do João foi difícil, pois crescer naquela tempo com mãe já era difícil, imaginem sendo criado por madrasta. A adolescência do João é um mistério, pois nem mesmo ele, que gostava de relembrar o passado, e não nos contava nada.

Veio a Juventude e com ela os anseios de um jovem. Anseios não têm época para aflorarem. O João era festeiro. Naquele tempo, as festas das comunidades rurais eram muito animadas, e localidades para se fazer uma festa era o que não faltava. A nossa família tinha naquele tempo, uma ramificação de parentes que morava em Paulo Jacinto.

O grande amigo do João era um primo que morava por lá, mas, nas épocas festivas, tanto meu pai se deslocava para Paulo Jacinto, como também ele comparecia na nossa região. Era o primo "Joca", filho da prima Mariinha.

De ir para as festas eles iam, o problema era que só tinham um par de sapatos para os dois. Astutos (naquele tempo também tinha malandragem), cada um usava um pé, o da sobra, o dedão do pé era envolto com um pedaço de pano (não tinha gaze na época), e molhado com sangue de algum bicho, pra fingimento de alguma lesão.

Foi numa dessas festas que o amor por Dona Antônia despertou n'ele. Já se conheciam de muito tempo, pois eram primos e não moravam muito distante um do outro. Só tinha um detalhe, dona Antônia não dava muita bola pra ele.

esse interim morre a irmã mais velha de dona Antônia, que deixou três filhos. Dona Antonia que sempre foi uma mulher de decisões firmes, e, já tinha uma irmã d'ela morando no Rio de Janeiro, resolveu que também iria para lá, levando os sobrinhos órfãos para dar uma educação adequada.

O João, desiludido com o pretenso amor indo embora, foi logo pensando: "Nunca mais ela voltará", indo logo pro Rio de Janeiro! A desilusão abateu drasticamente sobre o João. Passou um bocado de tempo pra reanimar-se. Para tentar não se lembrar do amor que partiu, resolveu ir à luta.

Não perdia mais festa nenhuma, principalmente as festas de Santo. O João era muito religioso. Numa dessas festas, alguém lhe dirigiu um olhar. Ele pensou muito. - Já que o amor não voltará mais, e, nem vou poder ir ao encontro d'ela, vou partir pra outra.

Namorou, noivou. Estava certo que a Antônia não viria mais. Marcou a data do casamento. Foi ao sítio onde moravam meu avós maternos para convidar o pessoal de lá para o casamento d'ele. Minha avó Olivia aceitou o convite e disse pra João: - A Antônia está voltando, deverá chegar no mês que vem. Quase caiu de costas quando ouviu a notícia.

Na primeira oportunidade que teve, e, isso foi rápido, ele rompeu o noivado. No dia 12 de maio de 1953, casou-se o João com a Antônia. Com o casamento vieram as dificuldades costumeiras de um casamento sem preparação.

Primeiro e pior, foram morar de favor em terras dos outros. Veio o primeiro filho (uma menina) que morreu antes de nascer, por falta de assistência: estava enrolada no cordão umbilical e sentada.

Em maio de 1955, nascia eu. Começaram aí as maiores dificuldades: minha mãe Antônia era inquieta. E esta inquietude preocupava o meu pai. Meu pai era do tipo meio acomodado, minha mãe, não. Como disse antes, foram morar em terras dos outros (do irmão de minha mãe).

Antes de completar um ano de idade, meus pais receberam o convite para se retirarem da casa onde moravam. Minha mãe persistente como nunca, conseguiui convencer meu pai a ir embora para morar na cidade. Descobriram a Rua da Ponte como início de uma longa caminhada de vida.

Instalaram no início um pequeno hotel. Vieram mais três filhos. Diversificaram os negócios e foram conduzindo a vida mais tranquilamente. Meu pai aposentou-se dos negócios no final da década de 80, acometido de uma doença hereditária chamada "Ataxia Spinocerebelar". Faleceu meu pai sorrindo, faltando quatro dias para completar 77 anos. Acho que morreu sorrindo lembrando-se das horas felizes em que esteve com os seus...

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