terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Eu não saberia dizer...


Olívia de Cássia – jornalista

Eu não saberia dizer em que instante da minha vida eu comecei a escrever sobre o que se passava comigo, era tudo natural, diariamente eu registrava tudo, como muitas meninas da minha idade o faziam.

 Desde a pré-adolescência eu tinha meus diários, minhas pequenas confissões, tudo escrito nos meus pequenos cadernos, que eu ia arquivando no guarda-roupa, até o dia que descobri que meus pequenos segredos tinham sido violados e resolvi destruir tudo.

Fiz uma pequena fogueira no quintal da nossa casa na Rua Tavares Bastos e, revoltada, toquei fogo, literalmente, nos diários. Eu e minha mãe tínhamos muitas divergências de opiniões.

Era difícil para ela, que teve uma formação de filha, neta e bisneta de senhores de engenho, escravocratas e ignorantes, entender a mentalidade daquela menina que queria alçar voos altos, se desmembrar daquilo tudo e ser livre.

Não era fácil para ela e muito menos para mim. Uma adolescente rebelde, que não aceitava imposições e que queria viver e ser feliz.  A busca da felicidade, a realização dos meus sonhos, sempre foram minhas metas.

Eu queria ser feliz, ter minha independência, poder viajar, conhecer um mundo novo, novas pessoas, ser amada, mas no meio do caminho eu me apaixonava e minha mãe não aceitava aquele sentimento que nascia dentro de mim.

Ela queria que eu fosse feliz, sozinha, que tivesse minha profissão, fosse independente, que não fosse jornalista, é claro. Não queria também que eu me apaixonasse nunca. Minha mãe era revoltada com o amor e com tudo o que ele trazia e proporcionava.

Dona Antônia  foi abandonada quando estava noiva de outro primo, que não era meu pai. Era o homem que ela amava e por isso não perdoava, era rancorosa e guardou essa mágoa para o resto da vida.

O casamento com meu pai se deu como uma consequência natural da vida, mas a gente entendia que não foi por amor. Segundo se comentava na família, apenas meu pai nutria um sentimento profundo por ela, apesar de ser muito namorador.

Mas apesar dessa falta de demonstração de afetividade entre os dois, eles nunca nos deixaram faltar nada e evitavam brigar na frente dos filhos. Havia muito respeito entre eles e a luta pela sobrevivência e pela educação dos filhos os tornava unidos no mesmo objetivo.

Eu sinto muito a falta deles dois. Uma saudade que dói no fundo do peito e que não posso evitar as lágrimas, apesar de já terem se passado 14 anos da morte de meu pai e 11 da minha mãe. Essa carência me aflora diante das tantas dificuldades que tenho passado, porque eles sabiam da minha fragilidade.

Mamãe era dominadora e queria comandar nossas vidas; não aceitava o fato de eu não compartilhar  desse comportamento dela, que chegou a colocar pessoas para vigiarem minha vida e muito depois a vida do meu ex-marido.

Era uma marcação pontual que ela desenvolvia e muitas das vezes essas atitudes influenciaram os fatos que aconteceram em minha vida. Hoje eu me peguei assim, com saudade de um tempo em que eu tinha os dois para lamentar minhas fraquezas e minhas impossibilidades diante dos entraves da vida. Boa tarde!

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