quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A vida recomeça

Olívia de Cássia – jornalista

A vida recomeça depois do intervalo do Carnaval. A cidade ainda está lenta, em clima de feriado. Eu acordei com aquele aperto no peito de saudade do que não vivi no Carnaval, mas a gente pode fazer de conta que é sempre Carnaval na vida da gente.

São muitos os sonhos que ainda persigo no meu caminhar e tomara que eu ainda tenha vida útil para realizar todos eles.

Ontem peguei um ônibus para ir trabalhar, apreensiva, com medo de outro assalto. Entro, pego com dificuldade a bolsa que caiu no chão, para tirar o dinheiro da passagem e em seguida procuro um lugar para me acomodar e dar vasão aos meus pensamentos.

A mesma linha: Novo Mundo-Centro poucos passageiros, mas não há de acontecer nada de novo por aqui. Lembro que não li todos os e-mails que chegaram  à minha caixa postal nesse Carnaval.

Ainda estou sonolenta, apesar de ter dormido bastante esses dias, mas começo a pensar em momentos do passado. Eu não poderia dimensionar o que vinha pela minha frente, vendo minha mãe sem vida diante de mim.

Passei a ter a ideia fixa de que ela não tinha me perdoado pelas minhas desobediências. Meu relacionamento estava frágil e eu sentia que estava por um fio, mas eu tentava me apegar  àquela situação como se fosse a última tábua de salvação, como se não existisse mais nada que pudesse me conduzir ao equilíbrio.

Era nele que eu via ter onde me sustentar para não desabar de vez diante daquilo tudo. Via uma realidade que não mais existia, se é que algum dia tinha sido alguma coisa. Aquele homem não me amava; nunca me amou e na verdade só tinha se aproximado de mim com segundas e terceiras intenções.

Mas diante da minha fragilidade, complexo de inferioridade e inexperiência eu jamais acreditaria nisso, embora minha mãe tivesse me alertado, mesmo que tenha sido com seu jeito rude de ser, preconceituosa e me dizendo frases grosseiras.

Para minha frágil cabecinha era demais aquilo tudo que estava acontecendo e passei a imaginar que o meu mundo tinha desabado, por completo. Nem as teorias adquiridas com meus estudos sobre feminismo e marxismo adiantaram naquele vendaval vivido por mim.

Não havia mais teorias, raciocínio lógico, compreensão política e filosófica, diante daqueles problemas todos. Eu acreditava que tudo tivesse acabado para sempre em minha vida e precisei de muita força interior, ajuda profissional e de amigos, que eu procurava a todo o instante, para me reerguer e ser outra pessoa.

O tempo passou mas de vez em quando tudo vem à tona, não posso evitar.  Desperto para a vida: vou trabalhar. Bom dia. 

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