domingo, 9 de junho de 2013

Programas alternativos tentam barrar o desperdício de alimentos

Foto: Adailson Calheiros

Olívia de Cássia - Repórter

Este ano a Organização das Nações Unidas (ONU) chamou a atenção para o desperdício de comida.  Segundo a instituição, são desperdiçados 1,3 bilhão de toneladas de alimentos anualmente - o equivalente a um terço de toda a produção mundial. Somente nos chamados países desenvolvidos, são 222 milhões de toneladas desperdiçadas - quase o mesmo produzido em toda a África Subsaariana, 230 milhões. O alerta foi dado nas comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente, acontecido no dia 5 último.

Apesar de o Brasil ser o quarto produtor mundial de alimentos, há também um grande desperdício, chegando a 64% de perda durante a cadeia produtiva: 20% na colheita, 8% no transporte e armazenamento, 15% na indústria de processamento, 1% no varejo e 20% no processamento culinário e hábitos alimentares.

A nutricionista Ana Paula Albuquerque, que é especialista em Saúde Pública e Pós-graduada em nutrição clínica, em Maceió, observa que uma solução para este sério problema pode partir da modificação de atitudes e costumes que cultivamos em nosso lar, realizando o aproveitamento integral destes alimentos, fazendo com que a utilização das partes não convencionais faça parte do hábito da população brasileira.

“Devemos sempre lembrar que o desperdício é um mal que precisa ser combatido por todos e iniciado, preferencialmente, dentro da própria casa”, diz Ana Paula. Ela observa que não se consegue grandes mudanças mundiais apenas pensando-se globalmente, “pois grandes mudanças do comportamento universal começam de forma humilde, com o exemplo próprio. Pensar globalmente agir localmente. Cada um faz a sua parte e o grande resultado se constroi”, pontua.

Com o objetivo de evitar o desperdício de alimentos, o Governo do Estado e o Governo Federal firmaram um convênio para a criação de um Banco de Alimentos em Alagoas, mas o projeto ainda não está colocado em prática. Segundo Ana Paula Quintella, superintendente de Segurança Alimentar e Nutricional da Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social (Seades), provavelmente em agosto de 2014 o projeto será iniciado.

 “Deverá ser construído no prédio do Instituto de Desenvolvimento Rural e Abastecimento de Alagoas (Ideral). O projeto está pronto e aprovado e será firmado por meio da Caixa Econômica, mas a licitação não foi finalizada”, explica Ana Paula.

CONSCIÊNCIA

Na Feirinha do Tabuleiro, em Maceió, a reportagem conversou com três comerciantes. Seu João Pereira da Silva é vendedor de tomates, pimentões, cebolas e outros produtos da hortifruti, há 25 anos. Ele conta que quando sobra algum produto que não está muito machucado faz doação para as igrejas Católica e Evangélica do local ou para outras pessoas da comunidade.

“Eles vêm pegar para fazer sopa, mas às vezes os tomates e outros produtos estão muito machucados, podres, e só servem para lavagem de porcos e a gente doa também. Tem semana que perde muito produto, mas tem outras que não”, explica o feirante. Seu João observa que compra os tomates em caixas de 30 quilos e que às vezes perde de dois a três quilos por caixa, no caso de frutas e verduras; nesse caso ele diz que não doa porque não serve para alimentação.

Neide da Silva trabalha em uma barraca que vende banana, mamão, coco e verduras, mas foi logo se apressando e dizendo que às vezes sobra verduras e frutas e estragam, mas que não fica muito tempo lá no local de trabalho e que o dono não estava para falar com a reportagem.

Seu José de Lima é baiano e também comercializa seus produtos na Feirinha do Tabuleiro. Ele disse que vende tudo muito fresco, mas o que sobra doa para o Programa Mesa Brasil, do Sesc, ou para pessoas da comunidade que fazem sopão para distribuir com pessoas carentes e outros moradores do Clima Bom. “Não tenho muitas perdas aqui e sempre que posso procuro ajudar, não gosto de desperdiçar alimentos”, argumenta seu José de Lima.

O dono de um self service localizado no Centro de Maceió, que preferiu o anonimato, explica que não faz doações das sobras de alimentos para entidades que cuidam de pessoas carentes e para outras pessoas, porque a lei proíbe.  

Ele conta que não tem muito desperdício em seu estabelecimento, porque já tem uma média de quantas refeições serão vendidas em seu restaurante.  “As sobras de alimentos são consideradas restos e não podem ser doadas, porque se acontecer algum problema de intoxicação por causa de alimento seremos punidos. Também sobra muito pouco aqui e faço doação para um senhor do mercado que vem buscar para os porcos”, explica.

Mesa Brasil realiza ações educativas para evitar o desperdício

O Mesa Brasil é um programa do Serviço Social do Comércio (Sesc), em nível nacional, que surgiu com o objetivo  de combater o desperdício de alimentos e a fome. Segundo Lisiane Damasceno Santana, coordenadora em exercício do programa no Estado, o programa existe em Alagoas há dez anos, na modalidade de Banco de Alimentos em Maceió e Arapiraca, e em Palmeira dos Índios colheita urbana (modalidade inicial do programa em Alagoas). 

O projeto funciona com a coleta dos alimentos que possuem valores nutricionais, mas perderam o valor comercial, nas feiras livres ou outro local que faz parte do convênio. Toda doação é coletada pelos carros do programa e é destinada ao banco de alimentos, onde passam por uma seleção e ensaque, antes de serem distribuídos às instituições.

A coordenadora também esclarece que o Sesc não realiza distribuição de refeições prontas. “Doamos os alimentos para instituições que atendem a beneficiários internos e externos, dependendo do trabalho realizado por cada uma delas cadastrada no programa.  Existem instituições sistemáticas que recebem doações a cada 15 dias, e instituições eventuais que recebem em casos de doações excedentes (grandes volumes). A distribuição é realizada por uma nutricionista que destina os alimentos de acordo com o perfil e per capita de cada instituição”, argumenta.

Segundo Lisiane Damasceno, o  Programa Mesa Brasil também realiza ações educativas para os manipuladores de alimentos das instituições; transportadores das doações; capacitações para os doadores, bem como oficinas focando o aproveitamento integral dos alimentos para os beneficiários das doações.

São contempladas com as doações as entidades cadastradas no programa: instituições como abrigos, creches, casa de recuperação para dependentes químicos, associação de moradores de bairros, paróquias, centros espíritas, casas de apoio a paciente com câncer, entre outros. Para se cadastrar para receber o alimento do programa é necessário enviar ofício para inclusão no Programa Mesa Brasil Sesc, em nome do diretor regional da instituição no Estado,  com nome, endereço, características dos trabalhos desenvolvidos na instituição e público atendido.

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