domingo, 6 de outubro de 2013

Fim de tarde

Olívia de Cássia - jornalista

Uma sensação estranha, sufocante, um aperto na cabeça, calor de final de tarde, suor e cansaço. Entardecer de domingo e aquela sensação estranha que está de volta. Não consegui relaxar no fim de semana, para me reconstruir e começar tudo de novo amanhã.

Penso que pode ser algum aviso, algum alerta de que o corpo é uma máquina que pode falhar a qualquer hora. Terminei o plantão no site, tomei um banho, já li, já dormi, mas acordei com o mesmo sentimento e a tensão não passou.

Talvez essa sensação seja apenas uma cisma da minha solidão, ampliada, preocupações com situações que não poderei mudar. A tarde cai rapidamente, busco respostas dentro de mim,  mas não posso mudar essa situação financeira, que me preocupa todo dia.

É engraçado lembrar: eu dizia sempre para mim e para meus pais que essas situações não iam me incomodar no futuro, mas quando a gente chega à meia idade, começa a repensar alguns conceitos, a querer ter conforto, mais saúde, mais tranquilidade.

Lá longe uma coruja passa fazendo barulho, sinalizando algum código. A rua estava silenciosa até quase agora, mas o efeito do álcool no juízo dos bêbados começa a dar demonstrações por aí e ouço barulhos que vêm lá de fora.  

Na televisão tem jogo de fim de tarde, mas não me animo para ver quem está jogando. Coloco o pen drive e seleciono várias músicas para ver se consigo relaxar um pouco para começar a semana com tranquilidade: Cazuza, Alcione, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Adele, Guns, Pink Floyd e vai por aí a seleção.  

A greve nos bancos não tem previsão para terminar, as contas se acumulam e atrasam, me causando mais dor de cabeça ainda. Houve um tempo diferente, ocasião em que alguns fatos dessa natureza não geravam nenhum incômodo na minha rotina de vida.

Mas agora, olho minha casa - de um canto a outro-, e vejo como está feia, precisando de muitos reparos; falta quase tudo que eu queria para o meu conforto e não vejo solução imediata para isso.

Não tem mais quase nada por aqui, tudo foi se gastando e a reposição necessária dos objetos não foi feita, por absoluta falta de condições financeiras, mostrando minha incompetência para administrar meu lar, diante das coisas práticas da vida.

Penso que se mamãe tivesse por aqui já teria me ajudado com os reparos a serem feitos. Ela e meu pai não devem estar satisfeitos com isso onde estiverem. Nessas horas eu me lembro do que eles diziam e dos conselhos e alertas de que a vida para mim não seria fácil: de que eu não teria condições de sobreviver com o que ganharia na profissão.

Visionários eles eram; hoje percebo isso. Engraçado como vêm à tona essas lembranças quando nos vemos em plena dificuldade; entretanto, eu avalio que nem todo mundo nasce para se dar bem, financeiramente, ou para ter o conforto devido e é com essa impressão que  vou seguindo minha vida simples, me propondo a realizar o que sei fazer de maneira que eu não tenha que me arrepender depois, mas lutando por qualidade de vida.

Foi o que aprendi e apreendi dos meus pais e familiares, porque mesmo que me alertassem para as dificuldades que eu passaria na vida prática, ao mesmo tempo sempre me passaram exemplos de retidão de caráter e de honestidade no que se dispunham a fazer.

Meus pais foram exemplos de um casal que saiu da roça para a cidade, em busca de dias melhores e, com esforço e muito trabalho, construíram uma família e deram bons exemplos de conduta, ensinando o respeito, a humildade e a fé. Boa tarde, boa semana e fiquem com Deus. 

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