segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Moradores rejeitam creches bancadas pelo governo federal

Foto de Adailson Calheiros
Líderes comunitários argumentam que há interesse na unidade, mas sem perder área de lazer
Líderes comunitários argumentam que há interesse na unidade,
mas sem perder área de lazer
Olívia de Cássia - Repórter

Um projeto de construção de creches, financiado pelo governo federal e que tem a parceria dos municípios, está causando um impasse em três comunidades de Maceió. 

O Proinfância  disponibilizou um recurso de um milhão e duzentos mil reais para o projeto e tem o principal objetivo de prestar assistência financeira, em caráter suplementar, ao Distrito Federal e aos municípios de todo o País que efetuaram o Termo de Adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e elaboraram o Plano de Ações Articuladas (PAR).

Segundo a Secretaria de Educação de Maceió (Semed), os recursos destinam-se à construção e aquisição de equipamentos e mobiliário para creches e pré-escolas públicas da educação infantil e pelo tamanho da população de zero a cinco anos, Maceió pode ser atendida pelo programa com a construção de até 61 creches, mas está encontrando resistência em três comunidades: no bairro do Canaã, no Loteamento Barilhoche e na Santa Ana, no bairro da Serraria.

Na praça do Loteamento Bariloche, no Feitosa, a comunidade se colocou contrária à proposta e fez um abaixo-assinado para que a creche não fosse construída, porque, segundo os moradores do bairro, facilitaria a subida dos marginais de uma grota que fica bem próxima ao local. A área, que é predominantemente de classe média, ainda segundo os moradores, não seria beneficiada pelo projeto. 

Com a construção, um muro que separou o loteamento da grota e reduziu o número de arrombamentos no local, seria destruído e o acesso ao local estaria livre não só aos alunos, mas a ladrões, segundo alega a comunidade. O terreno onde a creche seria construída também é usado como área de lazer pelos moradores, que plantaram árvores no local e levam as crianças para brincar.

Outra localidade é a Santa Ana, no bairro da Serraria,  o motivo da recusa é o mesmo. Segundo a Secretaria de Educação, a comunidade não aceita a vizinhança, que é de periferia. Nesse bairro, o terreno já conta com brinquedos e é usado como área de lazer, mas a Prefeitura alega que só parte o terreno seria usado.

No Canaã, comunidade quer que construção seja em outro local

Na Rua Maragogi, no Canaã, os moradores rejeitaram o projeto da forma como está, porque alegam que o local escolhido é o único onde os moradores têm atividade de lazer e realizam festas, procissões, encenação da Paixão de Cristo e os professores ensinam futebol às crianças, além de, segundo eles, dificultar a movimentação dos fiéis na igreja, porque só ficariam livres dois metros de um lado e três de outro.

Segundo o presidente da Associação de Moradores do bairro, José Bonifácio dos Santos Oliveira, quem primeiro fez a solicitação de uma creche no bairro, para 60 crianças, foi a comunidade. Ele observou que o projeto deles era que a creche fosse construída em outro local e não nesse terreno que a prefeitura escolheu.
Eles também mostraram a gravação em um celular onde as crianças, junto com um professor de futebol, argumentam que não querem a creche no local. O terreno em questão mede 75 x 40m e segundo o presidente da associação, a prefeitura mudou o projeto inicial da comunidade, por isso gerou esse impasse.

“Nós solicitamos que a prefeitura desapropriasse outro terreno, mas querem empurrar de qualquer jeito esse projeto, não trouxeram solução e não é assim”, pontua Bonifácio Oliveira. O presidente da associação estava acompanhado do prefeito comunitário, de um representante da igreja local e de outras lideranças do bairro. Eles disseram também que a Prefeitura de Maceió quer destruir a lavanderia e construir uma quadra: “Fica um espaço insuficiente para locomoção das pessoas”, destaca.

José Bonifácio pontua que a prefeitura está querendo colocar a responsabilidade na prefeitura comunitária e na associação, “mas a comunidade conhece o problema. Aqui realizamos várias atividades e não recebemos ajuda de ninguém; a prefeitura esquece que o único espaço cultural da comunidade é esse. Estão pensando apenas nas crianças de dois a cinco anos e quando essas crianças crescerem, não vão ter lazer; a educação tem que ser como um todo”, avalia o presidente.

 Segundo ele, no local já existiu uma creche do município e foi desativada por falta de crianças e de pessoas capacitadas para trabalhar.  O bairro do Canaã tem uma população estimada de 7.500 moradores, maior ou proporcional que muitos municípios do Estado. 

Mesmo com impasse, secretária argumenta que não vai desistir 

Foto de Adailson Calheiros
Procurada pela reportagem para falar do impasse das comunidades na construção das creches e centros infantis, a secretária de Educação do município de Maceió, Ana Dayse Dórea, disse que não vai desistir do projeto. 

Na comunidade do Canaã ela disse que ainda vai tentar uma nova negociação com as lideranças do bairro e  acrescentou que a partir de 2016, os municípios vão ter que universalizar a educação infantil.

O projeto Proinfância já está sendo executado em alguns locais. Ana Dayse ressalta que Maceió já tem 20 unidades destinadas, com processo licitatório aberto; 14 com ordem de serviço e em construção, algumas pendências de terreno, como em Riacho Doce, que pela invasão do mar não vai poder ser construída no local previsto, e mais as três comunidades onde os moradores discordam da proposta. 

SÓ HOMENS

A secretária informou que a decisão de não querer a construção das creches, no bairro do Canaã, é dos homens.  “Na última reunião que participei na comunidade, estavam: o prefeito comunitário, vereador comunitário, presidente da associação, conselheiro tutelar e alguns jovens lideranças da comunidade, só homens,  que de alguma forma explicita não querem a creche naquele local: querem na comum idade, mas nãol naquele local”, disse ela.

Segundo Ana Dayse, o único terreno apropriado para a construção da creche no Canaã, nos moldes do projeto do governo federal, é aquele da praça, onde segundo ela cabe fazer todos os investimentos previstos no programa. Ela explica que a prefeitura já participou de outras reuniões no bairro.

 “Fizemos uma nova planta, uma maquete, como se fala na engenharia, mostrando como seria localizado;  projetamos para lá uma creche de tamanho menor, embora a população comporte a de tamanho maior. A maior pode comportar 120 crianças em tempo integral, ou 240 em tempo parcial, ou 60 em tempo integral, que é essa que está projetada para atender a demanda da comunidade”, pontua.

A secretária argumenta que a prefeitura buscou um equilíbrio que atenda a necessidade das crianças e a necessidade da comunidade para o esporte e lazer. “A nossa proposta para eles é fazer a creche de um lado, mas mesmo a do tamanho menor compromete parte da quadra e a gente propõe fazer essa creche em tamanho menor, só que a quadra sai da frente e fica na lateral, para deixar o acesso para a igreja, que não ficará sem acesso”, ressaltou.

Moradores ficaram de apresentar 
nova proposta de local, mas até agora não o fizeram

A secretária Ana Dayse disse ainda que os líderes comunitários ficaram de apresentar  uma proposta de local e não o fizeram. “Não existe, não tem, nós já buscamos no tamanho que comporta a creche, pois não é um depósito, é uma escola, não é um berçário é um local onde a criança pode passar o dia inteiro de fato, com todo o seu desenvolvimento sendo acompanhado e sua formação”, enfatizou.

Diante desse impasse, a secretária disse à reportagem da Tribuna Independente que lamenta a posição da comunidade: “Fica muito difícil imaginar que uma cidade como a nossa, com o tamanho da população infantil que tem, e você procurar entender como é que uma comunidade se recusa a ter um centro de educação  infantil: é difícil”, reclama.

Como precaução, para não perder o recurso, a secretária disse que já esteve em Brasília e se não conseguir reverter a situação, o recurso será remanejado para outro local, “para não perder  um milhão e duzentos mil, pois  é um bom recurso para a construção dessa creche; cada creche custa isso”, disse ela.

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