terça-feira, 15 de julho de 2014

As lembranças da infância...

Olívia de Cássia - jornalista

Minha Vó Nenen, madrasta do meu pai, foi morar na entrada da Terra Cavada e fez amizade com dona Idalina, avó de Zé Maria do Alto Falante, que eu chamava de vovó. Dona Idalina fazia umas cocadas de banana deliciosas e quando voltamos a morar na Rua da Ponte, sempre íamos visitá-la quando estávamos na casa da minha vó-madrasta, Nenen. Essa minha avó-drasta tinha um papagaio que era muito safado e quando a gente chegava perto dele, desatava a dizer palavrões. O papagaio não tinha nome e nós o chamávamos de “Meu Louro”.

Ele cantava as cantigas das beatas do padre Cícero e sabia muitas delas. O papagaio foi levado por minha tia Renalva para o Rio de Janeiro  e morreu em 2002 ou 2003, não lembro o ano exato, porque o segundo marido dela colocou veneno na casa e matou o louro, que já estava com mais de 40 anos. Minha tia Renalva me disse, num dos nossos telefonemas, que chorou muito quando viu o danado do papagaio morto, e ficou com muita raiva do velho, que matou o papagaio, segundo ela avaliava, fez por gosto.

Eu fui muito briguenta quando estudava no Rocha Cavalcanti, contrastando com o meu jeito tímido e quase matuto de ser. Era muito inibida, cabisbaixa, cabelo comprido de franja, e desconfiada. Mas, numa volta ou noutra, estava eu de briga com minha amiga Gracinha Melo. Hoje, quando Gracinha fala numa das rusgas que tivemos, tenho até vergonha.

Acho que eu era um pouco bicho do mato mesmo. Sentávamos na mesma banca escolar e numa das nossas discussões, na troca de agressões, dei uma mordida no braço da coitada da Gracinha que cheguei ao ponto de tirar um pedaço da pele dela, tal qual uma canibal. Brigávamos por qualquer coisa, acho que até por ciúmes da professora, de quem nos sentíamos donas ou com o direito de ser mais querida por ela.

A professora Nese, esposa de um médico da cidade, o dr. José Lima, tinha um jeito esquisito de tratar os alunos, não era como Nina Rosa ou a professora Josefa e outras de quem aprendemos a gostar. Ela, por qualquer coisa, nos batia com uma régua enorme que levava para as aulas. Certa vez me bateu na cabeça com aquele instrumento e eu não contei história: peguei a régua e quebrei em pedaços, o que me rendeu o castigo de ficar na frente dos colegas, perto do quadro-negro, servindo de gozação. E como dizem os mais novos hoje em dia, “paguei o maior mico”.

Eu morria de medo de apanhar com a palmatória, que era um meio de tortura utilizado nas escolas daquele tempo. Se o aluno desobedecesse à professora ou cometesse algum mal feito, apanhava com aquele pedaço de madeira escura, pesado, de cabeça arredondada, e com um cabo, semelhante a uma colher de pau. A quantidade de bolos (pancadas) que a vítima levava era a que a professora determinasse, conforme a gravidade da malcriação. Mas, justiça seja feita, que eu me lembre, felizmente, não cheguei a apanhar de palmatória.

Eu e Rosemary Veras criamos um verdadeiro pavor aos dias de vacina na escola e dávamos escândalos com medo daquelas agulhas. Num dia de vacinação no Grupo Escolar Rocha Cavalcanti quase que arrastamos as carteiras da escola conosco, tal foi o medo que tivemos, quando os homens da saúde chegaram para nos vacinar contra a rubéola, sarampo, catapora e outras doenças. Nós nos agarrávamos às bancas escolares como se elas fossem nos proteger das agulhas e daqueles homens, que nós detestávamos. 

Na escola, gostávamos de brincar de mãe e filha. Nossas colegas mais velhas faziam o papel de nossas mães, na hora do recreio, quando não estávamos brincando de roda, amarelinha ou de pular corda. Seu Maurino Veras, pai de Rosemary, era proprietário do serviço de alto-falantes da cidade, pois na época não tinha rádios em União. Desta forma, a população costumava ouvir música por meio das cornetas que eram colocadas em locais estratégicos da cidade: nos postes ou árvores.  Nos dias de festa, ele instalava o seu serviço de som na Praça Basiliano Sarmento e os jovens mandavam telegramas musicais e mensagens para seus pretendentes, namorados ou namoradas, e marcavam até encontros, tendo essa prática se tornado comum, naquela época.

Nos anos 60 e 70 as músicas de Roberto Carlos foram marcantes, para todos que viveram na cidade naqueles anos.  No dia-a-dia do serviço de alto-falante de seu Maurino Veras havia uma programação musical diferenciada: o horário das músicas mexicanas, músicas nacionais, horário de Roberto Carlos e da Jovem Guarda, músicas internacionais e serviços de utilidade pública. Eu costumava frequentar a casa de seu Maurino, para estudar com Mary e ter aulas de datilografia com dona Rosinha. 

Quando fui estudar no Monsenhor Clóvis, depois que saí do Rocha, desenvolvi uma aversão por matemática. Nunca fui boa em cálculos e na quarta série primária ganhei uma nota vermelha nessa matéria. Quando cheguei em casa, minha mãe, de posse do boletim escolar, me  deu uma surra danada, me colocou de castigo e eu nunca mais vi a disciplina com bons olhos: estava sempre me lembrando da surra que tinha levado, por conta da nota baixa.

Minha deficiência em matemática é tanta que para passar no vestibular  de Comunicação Social fiz os pontos mínimos na prova, não lembro com precisão, mas acho que acertei apenas as questões obrigatórias para passar.  Hoje admiro muito quem domina a matéria e gostaria de ter aprendido mais a matéria. 

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