quarta-feira, 30 de julho de 2014

Meus animais de estimação

Olívia de Cássia - jornalista
               
Quando éramos crianças tínhamos lá em casa um cão de nome Navan, cachorro que meus pais trouxeram do sítio. Ele era um cão enorme, branco com umas manchas pretas na pelagem e quase morre numa das enchentes do Rio Mundaú. Foi tentar entrar na água e quase foi tragado pela correnteza. Ficamos todos aflitos.

Depois de Navan, nós possuímos o Dob, que era muito parecido com um bassê. Dob foi um presente de tio Antônio Paes, porque comia os ovos das galinhas do sítio. Mas deu um trabalho danado para ele se acostumar conosco, e quando menos esperávamos, ele fugia de volta à Barriguda. 

Dob ficou conosco até morrer, com quase quinze anos, sem dentes, cego e muito gordo. Foi nossa companhia das brincadeiras da infância, por muitos anos. Ficava deitado no calçamento da Rua da Ponte, sem ligar para os carros que podiam atropelá-lo. Ele era muito dócil e se dava bem como todos, principalmente as crianças.

Eu gostava de levar os gatos que pegava na rua para casa, mas mamãe tratava de descartá-los no dia seguinte. Encarregava meu irmão Paulinho de fazer isso, pois eu tinha e tenho asma alérgica, o conhecido puxado, e mamãe não queria me ver às voltas com os bichanos. Mas eu e Paulinho andávamos com uma corda na rua e, de vez em quando, trazíamos um cão vira-lata para casa. Numa dessas investidas, levamos o “Zé Black”, um cão vira-latas amarelo claro e mamãe consentiu que o criássemos.

Zé Black era muito dócil, mas, no mesmo mês em que vovó estava agonizando na casinha dos fundos, na Tavares Bastos, um vizinho deu carne moída com vidro para meu pobre cão e ele morreu de uma forma horrível. Enquanto minha avó dava os últimos suspiros em seu leito de morte, meu cão uivava de dor no quintal da casa sem que tivéssemos coragem de mandar sacrificá-lo. Era muito triste de se ver. Ele expelia do nariz uma secreção amarelada e purulenta e olhava pra nós com aqueles olhos tristes, como se tivesse nos pedindo para aliviá-lo daquelas dores. Chorávamos todos nós com aquele sofrimento.

Quando Zé Black morreu, o amigo Duerninho Wanderley, filho de doutor Duerno, me deu de presente a minha primeira cadela da raça Pequinês, a Kelly, filha de Meg, uma das cadelas da casa de Duerninho, que era muito paparicada por dona Dora. Quando Kelly estava com três meses, apareceram muitos carrapatos em seu pelo e mamãe resolveu matá-los com um veneno que se colocava nas formigas tipo saúva. Não deu outra. 

Num dia muito chuvoso, quando cheguei da escola no começo da noite, minha cadelinha estava sangrando pelo nariz e com dificuldade de respirar. Envolvi-a em toalhas velhas e saí chorando pelo meio da rua, em busca da ajuda de seu Toinho Mathias. No meio do caminho encontrei Natalete, filha de Toinho, e fomos até ele.  

No percurso eu percebi que a minha doce cadela já não respirava mais e desatei num pranto sem fim. Quando chegamos até seu Toinho ele me certificou da morte da cadela e disse-me que não poderia fazer mais nada. O veneno das formigas havia atingido seus pequenos pulmões. Eu fiquei desesperada, sem saber o que fazer e a trouxe para enterrar no quintal, da mesma forma que tínhamos feito com o Black.

Mas eu queria continuar tentando ter o meu animal de estimação e foi aí que dona Rosa, mãe das minhas amigas Roseane, Rosenilse e Rita me presenteou com outra, da mesma raça, que eu voltei a chamar de Kelly. Depois, seu Vicente barbeiro, pai do Joinha, me deu outra, a Baby, que mamãe se desfez, depois que eu arrumei um namorado que não era do seu gosto.

Ter um cão da raça Pequinês era a moda daquela época. Quando mudei para Maceió voltei a me interessar em criar animais. Já possui vários gatos, que morreram ou foram embora e cinco cães da raça Poodle. O primeiro foi o Tafarel, que eu comprei para dar de presente para meu companheiro, só com a ideia de que ele me deixasse criar meu cão.

A doce Juventina, uma gata vira-lata branca, me presenteada pelo meu primo Daniel, filho da minha prima Izabel, era um amor de doçura. Essa gatinha viveu comigo 13 anos; era muito companheira e carinhosa, só paria suas crias quando eu chegava para ajudar e sumiu no dia do segundo turno das eleições que elegeu Lula presidente. Minhas amigas da Secretaria de Educação brincavam comigo dizendo que a gata tinha desaparecido inconformada com o meu envolvimento na campanha de Lula à Presidência da República.

Juventina pariu 83 gatos, todos anotados por mim, em seus 13 anos de vida. Cada cria que ela paria eu dava nome aos gatinhos, antes de presenteá-los para alguém. A cada livro que eu lia, a cada novela ou filme que assistia escolhia um nome para dar aos meus gatos e cães. Essa é a minha ligação com os animais. De um carinho imenso que tenho por eles.

Meu segundo cão Poodle, que tinha nome de lorde, o Nestor. Morreu com oito anos, vítima de uma doença provocada pelo carrapato, dias depois do falecimento da minha mãe, no dia 27 de dezembro de 2001, quando eu estava muito abalada e deprimida. Hoje, quando conto para os amigos a cena do enterro de Nestor, todos riem porque lembram do enterro da cachorra do Auto da Compadecida, escrito por Ariano Suassuna.

Com Nestor morto nos braços eu saí pela rua, acompanhada do rapaz que eu paguei para enterrá-lo. O rapaz carregava uma enxada nas costas e fomos andando pela rua, procurando um lugar adequado para enterrá-lo, e as pessoas nos olhavam por onde passávamos. 

Quando chegamos nos fundos do Instituto Médico Legal - IML, de Maceió, onde enterramos o Nestor, enquanto o rapaz cavava o buraco, eu ligava para meus irmãos para dar a notícia do falecimento do meu cão. E todos riem quando conto essa história, mas para mim foi muito triste e doloroso, pois os meus animais são para mim os filhos que eu não tive. 

Passada a morte de Nestor, o veterinário que cuidava dele me deu de presente a Dalila, que se chamava Mel e eu troquei o nome.  Dalila me fez companhia por três anos e meio, era uma mocinha muito meiga. Confortava-me quando eu estava triste ou chorando, fazendo alegria com seu pedacinho de rabo cortado e me dando beijos molhados (lambidas).

Ela era um pouco estressada, por conta da falta de tempo para lhe dar atenção e de fazer-lhe carinho, mas nas horas em que eu estava em casa, era muito companheira. Chegou a amamentar meu gato Bono Vox até adulto e quando morreu, o Bono entrou em depressão e depois também morreu envenenado. Com a morte de Dalila e abatida com todos os acontecimentos da minha vida entrei em depressão novamente.

Foi aí que meu primo Edvaldo Siqueira, sabedor da morte da minha cadela, me fez uma proposta que eu procurasse outro animalzinho que ele depositaria o dinheiro na minha conta. Seria um presente seu. Assim o fiz e comprei a Malu, uma Poodle Toy que já fez nove anos e nunca me deu “netinhos” porque precisou ser operada. Além da Malu e do Otto eu tenho agora sete gatos que me fazem companhia nessa minha vida um tanto quanto atrapalhada. Boa noite.

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