terça-feira, 16 de setembro de 2014

A clareza das ideias ...

Olívia de Cássia – jornalista

Sonhei com algum momento do passado ao amanhecer do dia de hoje e a cena me fez refletir sobre determinadas situações que eu vivi lá atrás, contradizendo todas as teorias que eu costumava absorver e depurar todos os dias com minhas leituras feministas.

Sempre gostei de ler e absorvia, desde Marta Suplicy, Zuleika Alambert, Rose Marrie Muraro e   outras escritoras que eu tenho na minha estante e costumava recorrer. Durante um período da minha vida eu passei a assimilar a submissão ou aprendi a conviver com ela, embora não fosse um sentimento deliberado, mas só há bem pouco tempo me dei conta dessa situação.

Naquele tempo, eu passei a admirar o homem com quem vivia, porque, no começo daquele relacionamento, de certa forma, ele foi se moldando falsamente à minha maneira de ser, à minha vida universitária ao mundo que eu estava também descobrindo até então.

Eu era uma jovem muito pura de sentimentos e fui acreditando naquilo tudo, já que as minhas experiências no campo do namoro eram incipientes, apesar das minhas leituras e embora eu tivesse conhecimento dos seus limites intelectuais, inconscientemente, eu tentava fazer com que ele, aos poucos, fosse assimilando aquelas minhas teorias.

Já militante de um partido político eu fazia cópias das minhas leituras políticas, estatutos e outros textos e repassava para ele, avaliando que aquela criatura que se achava o conquistador fosse pelo menos tentar ler e dar uma entendida naquelas teorias.

Tola ingenuidade a minha e reconheço agora que de certa forma eu quisesse que ele se adaptasse  à minha forma política e  rebelde de ser e a tudo que eu vivenciava na faculdade, que foi o período inicial da nossa aproximação, basicamente ou ao que havia aprendido na vida.

E ele fingia muito bem, querendo usufruir daquele meu mundo, das minhas amizades. Pelo menos fingia muito bem, já que por quase dois anos vivemos uma relação que naquela época não tinha profundas intimidades sexuais e o interesse era apenas físico.

Com o tempo e a assumida de um relacionamento mais sério, aos poucos, avalio agora, fui me moldando à imagem da mulher acomodada, que tinha um companheiro cuja companhia podia contar nas festas e eventos, embora eu vivesse outra vida paralela, de participação em movimentos sociais e sindicais e não arrefecesse meus ânimos aos ideais  que eu sempre defendia.

E foi nesse tempo que as traições e revelação de um comportamento dúbio começaram a se fazer claros em minha mente. “Caiu a ficha”, mas eu ia tentando contornar e conviver estranhamente com aquele sentimento.

Era um relacionamento atípico, não aceito pela minha mãe e muito pouco pela sociedade preconceituosa e racista e era isso que me impulsionava a seguir em frente, avaliando que ambos tivéssemos lutando por semelhantes propósitos. Ledo engano.

Hoje essas lembranças amanheceram comigo e com meu gato Jotinha nos braços, lembrei que hoje é feriado da Emancipação Política do Estado e apesar da preguiça do corpo, precisava acordar e levantar para a vida, pois as leituras e a escrita me esperam. Bom dia!

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