terça-feira, 28 de abril de 2015

Meu pai

Olívia de Cássia - Jornalista

Meu pai era um homem excepcional: temeroso a Deus, justo, trabalhador e honesto. Era um homem que acordava logo de madrugada para o trabalho diário e não se furtava às adversidades do tempo. Se ainda estivesse nesse plano, teria completado 93 aninhos no dia 16 de abril, ele morreu faltando  quatro dias para completar 76 primaveras.

Quando estava em casa, ainda quando tinha saúde, seu passatempo preferido era ler a Bíblia, notícias dos jornais que eu levava para ele e ver televisão. A fora isso, as festas de Santa Maria Madalena e ir à missa eram o seu ritual preferido.

A festa ele não perdia uma noite, nem as novenas, isso quando ele ainda podia andar. Seu João também gostava de viajar a Maceió para marcar os bingos que eram feitos, que tinham como premiações carros, para angariar fundos à construção do Trapichão.

Além disso, gostava de ficar na ponte próxima à Praça Antenor de Mendonça Uchoa, para saber das novidades da política local. Meu pai era fanático por política. Era assim que ele ficava sabendo de todo o burburinho da cidade de União dos Palmares, até o início dos anos 1980, quando começou a levar quedas na rua e deixou de andar.

Isso herdei dele também, o problema hereditário, a Doença de Machado Joseph. Herdei dele algumas particularidades, tanto físicas quanto sentimentais  e isso minha mãe Antônia dizia: “Até o nariz é igual, dizia ela”, mas com o tempo e a maturidade eu fui pegando as feições da minha mãe e hoje me acho mais parecida com ela fisicamente do que com seu João.

Eu e minha mãe tínhamos muitas divergências, por conta das nossas opiniões e dos meus relacionamentos amorosos e amizades que ela tinha restrições. Sempre acabávamos discutindo de alguma forma, até que por dois anos ela parou de falar comigo, mas o meu pai, nunca se furtou a me receber e a conversar com a filha rebelde.

Ele tinha sempre uma palavra amiga e um conselho para me dar, mesmo quando já estava bem acometido pelo seu problema de saúde. Lembro daquele sorriso doce me dizendo que eu entendesse a minha mãe, que se trancava no banheiro quando eu ia de Maceió a União para vê-los e fui proibida de entrar em casa.

Mesmo assim, meu pai, cambaleante ia até o sofá da sala para conversar comigo, que ficava sentada no batente da porta, ora chorando, ora conversando com ele. Ela não baixava a guarda, até que um dia cedeu. Hoje eu tenho muita saudade dos dois, que já se foram há mais de dez anos, embora as lembranças estejam bem avivadas em minha mente.

E quando me vejo assim, frágil, sentindo as mesmas limitações físicas que meu pai teve, até não caminhar mais, me ponho a refletir sobre muitas questões da vida. Não adianta orgulho, não adianta incompreensões diante da falta de saúde e das limitações que a vida vai nos impondo.


Aos poucos a gente vai percebendo o quanto somos frágeis e que é muito tênue a linha da vida. Procuro me aprimorar a cada dia, melhorar minhas atitudes, comigo e com os outros e fico pedindo a Deus para não dar trabalho a terceiros e a me conduzir para o bem, me dando mais força e saúde para continuar a minha missão aqui na terra, que é escrevinhar, isso eu tenho certeza. Bom dia e fiquem com Deus.

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