quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Presidente da Associação das artesãs do Pontal reclama da falta de apoio governamental

Olívia de Cássia - Repórter \ Primeiro Momento 


A presidente da Associação das Artesãs do Pontal da Barra, Maria Ligia Minin de Lins, reclama da falta de apoio governamental para os artesãos do bairro, conhecido pela produção do bordado filé e trabalhos artesanais de casca de mariscos. Tombado pelo patrimônio, o bairro tem aspecto bucólico, de cidade do interior. 

A presidente da Associação das Artesãs do Pontal da Barra, Maria Ligia Minin de Lins, reclama da falta de apoio governamental para os artesãos do bairro, conhecido pela produção do bordado filé e trabalhos artesanais de casca de mariscos . (Fotos: Paulo Tourinho)

Ligia Minin defende que o Instituto do Bordado Filé, entidade que poderia definir a identidade geográfica do bordado (IG), um selo de qualidade, trabalhe com o fortalecimento das entidades das bordadeiras, que segundo ela não é o que está acontecendo.
“As artesãs do Pontal não têm apoio governamental que é necessário e se dá quando tem alguma atividade do governo e nos convidam em algumas vezes; não é sempre”.  Segundo Ligia Minin, o Pontal tem que ser olhado pelo poder público de uma forma diferenciada, pois ela observa que o bairro é quem representa o artesanato de Maceió. “A gente precisa de valorização e não de exterminação”, pontua.

Segundo a presidente da entidade, procurou o Sebrae e todos os setores interessados para viabilizar o selo de qualidade e a criação do instituto.

Ligia Minin conta que em 2004 descobriu que o Ceará queria patentear o filé como sendo produto cearense. “Na época eu corri atrás e busquei ajuda para que a gente não deixasse acontecer, porque o filé é um produto genuinamente alagoano”, conta.
Segundo a presidente da entidade, procurou o Sebrae e todos os setores interessados para viabilizar o selo de qualidade e a criação do instituto.  “Começamos a procurar a história do filé, para que pudéssemos ter o IG e criar um Instituto do Bordado Filé, que seria para o fortalecimento das entidades de artesãos; depois de quase tudo pronto,  o Instituto se tornou uma associação que não aglutina as outras entidades”, pontua.
Segundo ela o IB não se tornou a união das entidades; não trabalha o fortalecimento das associações “e está tomando o nosso espaço, o nosso lugar. Tornou-se uma associação à parte e hoje o Sebrae só fala do bordado do Instituto Filé, deixando as bordadeiras do Pontal sem reconhecimento”, afirma.

Instalação do Instituto Filé não está sendo aceito por lojistas do bairro

A possível instalação de uma sede do Instituto do Bordado Filé no bairro não está sendo aceito por lojistas e artesãos do bairro, segundo Ligia Minin que é a idealizadora do projeto inicial da instituição.

Segundo Ligia Minin, o Pontal tem que ser olhado pelo poder público de uma forma diferenciada, pois ela observa que o bairro é quem representa o artesanato de Maceió.

 Ao contrário do que foi pensado, Ligia Minin disse que o instituto está acabando com as entidades que existem por causa do bordado. “A gente queria que fosse a nossa base, o nosso elo de fortalecimento das associações. O objetivo era que o IG viria para fortalecer a nossa história”. A artesã ressalta que além do Pontal o ideal seria que o instituto tão sonhado por ela e os artesãos do bairro fortalecesse todas as associações que trabalham com o bordado filé.
 Ligia Minin destaca que a Associação do Pontal, que ela preside e a Coperban se retiraram do processo, “porque nós vimos que a forma que estão trabalhando não é da coletividade, é individual”, ressalta.
 “O Instituto está querendo construir uma sede aqui no bairro, no prédio do Terminal Turístico, que nunca foi utilizado em favor do pescador; foi construído para que a Colônia fizesse um trabalho com os pescadores e as rendeiras; isso nunca foi feito”, comenta.
Segundo Lígia, a concessão do prédio nunca foi pedida pelas filezeiras, porque a associação avaliava que tivesse sido construído diretamente para a colônia, mas ano passado descobriram  que não pertence à colônia e foi só uma concessão. “O prédio está alugado há 20 anos para pessoas de fora e para lucro próprio, nunca foi usado para a comunidade”, explica.
Ligia explica ainda que a associação entrou com o pedido de concessão do imóvel, mas a presidência da colônia já tinha assinado uma ata cedendo o prédio para o Instituto Filé. “Chamamos a presidente e perguntamos como era que ela dava a concessão para vir para o Pontal uma entidade para filezeiras de outro lugar, tendo uma sede dentro da comunidade que se contrapõem a isso?”.

Ligia explica ainda que a associação entrou com o pedido de concessão do imóvel, mas a presidência da colônia já tinha assinado uma ata cedendo o prédio para o Instituto Filé.

Segundo ela avalia, os moradores do bairro é que têm esse direito, mas o poder público quer tirar. “Nós é que temos esse direito e querem nos tirar. As mulheres do Pontal não querem isso aqui; o Instituto vem pra cá para fazer uma sede para ele; o museu do filé, um auditório para as artesãs ligadas à instituição fazerem palestras e reuniões”, pontua.
Ligia explica que as mulheres dessa entidade não vão comercializar as peças delas, mas vão ter a sede com uma placa bem grande com o nome da entidade e quando o turista vier fazer a encomenda, vai comprar lá:  “E a gente que mora aqui, que ajudou esse povo todo a ser conhecido, como fica?”, interroga.
A presidente da associação acrescenta que os moradores do Pontal merecem respeito: “Merecemos o espaço para o fortalecimento da nossa classe, com o Pontal fortalecido, unido, ele não só divulga Maceió, quando a gente está lá fora a gente divulga todo o Estado de Alagoas”, complementa.

A presidente da associação acrescenta que os moradores do Pontal merecem respeito

Segundo ela, as artesãs verdadeiras do Pontal não querem a instalação do IB no bairro. “Se quiserem construir em Jaraguá, podem construir, ou em outro lugar, a gente não se importa, agora dentro da nossa comunidade, trazer as pessoas de um lugar que a gente não tem espaço, e vai pegar o local que tem e dá para outras está errado, não pode acontecer”.
No ano passado, segundo ela, foi feita uma ação na Justiça, a Secretaria de Cultura entrou no circuito e foi dada uma parada no processo, até ser conversado e se chegar a um acordo, mas segundo ela foi feito um documento solicitando a concessão do prédio, com um abaixo assinado de 450 assinaturas das artesãs.

Documento com mais de 500 assinaturas está sendo elaborado

Outro documento está sendo feito com 500 a 600 assinaturas, segundo a Ligia Minin,  mostrando ao poder público que as artesãs querem a sede, “Porque se o Instituto do Bordado Filé fizesse um trabalho coletivo e unido não precisaria da sede e faria reuniões descentralizadas, nas sedes das instituições que já existem há mais de 20 anos, para mostrar o fortalecimento das artesãs do Estado”, pontua.

No ano passado, segundo ela, foi feita uma ação na Justiça, a Secretaria de Cultura entrou no circuito e foi dada uma parada no processo

A líder comunitária culpa os órgãos governamentais de quererem implantar o Instituto do Bordado no bairro e reforça ainda que o IB, além de não aglutinar as entidades, criou uma nova diretoria, diferente da que tinha sido idealizada no objetivo do projeto inicial, que comportaria três membros de cada associação que já existe e que foram eleitas pelos seus sócios.
Ligia Minin argumenta que no início não atentou para o que estava acontecendo. “Me tornei uma pessoa até mais moderada nas minhas opiniões e ações, para evitar muitas polêmicas para que o projeto desse certo mais rápido e a gente patenteasse o filé; mostrasse que esse é um produto nosso; um orgulho nosso”, destaca.

A líder das artesãs do Pontal diz ainda que o grupo que está dirigindo o instituto não tem abertura para um trabalho como se deve fazer.

Mas, segundo ela, “infelizmente eu percebi que o direcionamento que está sendo dado não é coletivo e nem da união de todos e desde novembro do ano passado eu fiz uma carta me desligando de todo esse processo”, explica.
A líder das artesãs do Pontal diz ainda que o grupo que está dirigindo o instituto não tem abertura para um trabalho como se deve fazer. “Hoje se diz assim: se vocês quiserem ocupar o espaço, se filiem ao Instituto do Filé e a Associação dos Artesãos vai ficar para resolver os problemas da comunidade”.
Ela questiona dessa forma, como fica a sede da associação; a história da entidade e as lutas da categoria. “Hoje eu sou uma pessoa que combate o projeto que corri atrás; não concordo com a forma que o instituto está trabalhando”, lamenta.

Bairro é responsável pela geração de emprego e renda

O Pontal da Barra tem atualmente 9.650 habitantes, é um bairro turístico, seja por seu aspecto tradicional, seja pelo artesanato, culinária, bons restaurantes, passeios de barco pela Lagoa Mundaú, dentre outros motivos.

A líder das artesãs do Pontal diz ainda que o grupo que está dirigindo o instituto não tem abertura para um trabalho como se deve fazer.

A presidente da entidade diz ainda que o bairro do Pontal da Barra gera em torno de 15 mil empregos: é responsável pela divulgação de bordados de outros municípios alagoanos e de outros estados do País, que lojistas do local compram para revender e que se tornaram conhecidos em todos os lugares por causa do artesanato do Pontal da Barra.

"A maioria das peças tem no mínimo cinco pessoas envolvidas trabalhando atrás de cada bordado”, explica.

“A gente gera emprego para o Estado de Pernambuco; Sergipe; Natal; João Pessoa; Ceará  e os interiores de Alagoas. Além de divulgar tudo isso, a gente compra e revende, sem contar que aqui nós geramos empregos, mais mil dentro da própria comunidade, fora os lojistas. A maioria das peças tem no mínimo cinco pessoas envolvidas trabalhando atrás de cada bordado”, explica.

Mais lojistas estão se instalando no bairro

O Pontal da Barra tem atualmente 252 lojistas e mais dez estão para abrir no local. Cada um, segundo a presidente da associação, gera no mínimo emprego para 15 famílias. Além disso, as filezeiras terceirizam serviços de outros municípios, gerando renda para cada um deles.

O Pontal da Barra tem atualmente 252 lojistas e mais dez estão para abrir no local. Cada um, segundo a presidente da associação, gera no mínimo emprego para 15 famílias.

“O Pontal da Barra tem 289 anos; mas quando o padre José Cabral datou a primeira caderneta, disse que já existia há uns trinta anos”, pontua.  A líder comunitária destaca que o bairro é importante para a história de Alagoas.  “Temos história e somos o primeiro bairro da capital como ponto turístico”.   
Ligia Minin conta como começou a ser mostrado o filé para o mundo. Segundo ela, antigamente as mulheres iam a pé até a Praça Pingo d’Água (no Trapiche da Barra), onde tinha um bondinho e de lá elas iam até o Ponto de Maceió, em Jaraguá, onde só tinha marinheiro, para vender o bordado filé.
“Isso quando o porto foi construído, pois antes as pessoas vinham de navio aportavam nas praias e vinham em botes pequenos; as mulheres que vinham nesses botes compravam o  artesanato”, destaca.

Começo

Logo quando começou a ser feito, o filé era feito de palha e depois passou a ser feito de barbante, “que a gente chamava cordão; lá fora o povo conhece como barbante. Ainda hoje é feito, mas não mais como antigamente”.
A presidente da associação conta que o filé antigamente era só o caminho de mesa e cortina. “Hoje, é o produto da moda, e vai da preta Porter, moda fashion week, à moda popular, depende da criatividade de cada artesão. Não é uma coisa coletiva, é um trabalho de criação, mas também fazemos material por encomenda”, explica.
Peças que custam de R$ 10 a R$ 500 ou mais, dependendo do tamanho, material e tempo empregado para a confecção, além do bordado filé, que é feito em um tear e é um característico do bairro, as artesãs do Pontal comercializam bordados como macramê, redendê, recheliê, entre outros.

Peças que custam de R$ 10 a R$ 500 ou mais, dependendo do tamanho, material e tempo empregado para a confecção

A artesã Cida conta que o comércio no bairro está retraído, mas que a expectativa é de melhorar. “O movimento não está muito bom, mas esperamos que melhore”, observou a artesã, acrescentando que os preços das peças variam, depende do tamanho, tempo e material empregado.
 “Temos caminhos de mesa a R$ 35; R$ 30; bolsas a R$ 10; blusas a R$ 110; saias de R$ 120 e outras peças para compor o vestuário, cama, mesa e banho, jogos americanos, além de redes e diversas peças artesanais de artistas da terra”. Toalhas de filé, roupas e acessórios, tudo é comercializado no bairro turístico do Pontal da Barra, visitado semanalmente por centena de turistas e nativos.   

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