sábado, 23 de janeiro de 2016

Crianças são vítimas de mortes brutais e precoces

Olívia de Cássia - Repórter\Tribuna Independente

O que leva um ser humano: mãe, pai, pessoa da própria família ou amigo a tirar a vida de uma criança indefesa? Por que tem crescido assustadoramente casos de violência cometida contra crianças, no Estado e no país? Essa pergunta chega à reportagem como resultado do recente caso do assassinato de  Dyllan Taylor Soares, de três anos, assassinado pelo padrasto, Meydson Alysson Silva Leão.

Essa pergunta chega à reportagem como resultado do recente caso do assassinato de Dyllan Taylor Soares, de três anos, assassinado pelo padrasto, Meydson Alysson Silva Leão. (Foto: Reprodução web)

O caso do pequeno Dyllan Taylor não foi o único no Estado. Uma pesquisa rápida na internet indica que as crianças são vítimas constantes de pessoas insanas, na maioria das vezes da própria família ou de pessoas próximas a ela.
Em junho de 2013, um caso que chamou à atenção da mídia e da sociedade alagoana foi o do menino Felipe Vicente da Silva, de dois anos, sequestrado e morto e o corpo encontrado em um buraco em um terreno baldio no Conjunto Cleto Marques Luz, no Tabuleiro do Martins, parte alta de Maceió.
O sequestro do menino Felipe Vicente gerou protesto e projeto de lei aprovado na Câmara de Vereadores de Maceió, de autoria da vereadora Heloísa Helena (Psol), que acompanhou a família desde o desaparecimento de Felipe.
O projeto de lei aprovado pela Câmara de Maceió obriga a exibição da foto de crianças e adolescentes desaparecidas em telões, murais e placares eletrônicos instalados em rodoviárias, aeroportos, teatros, cinemas, casas de espetáculo, praças esportivas e de eventos e clubes recreativos.
À época, Heloísa Helena disse que a dor de uma mãe é a mesma, sendo rica ou pobre. “O que muda é o tratamento que ela recebe”, observou. Depois de 13 dias de buscas o corpo do pequeno Felipe foi encontrado em avançado estado de decomposição.
Em julho de 2013, em Rio Largo, o sequestro, seguido de morte de uma criança de um ano e seis meses, desafiou os investigadores da Polícia Civil de Alagoas. A menina, que morava com a família na cidade de Rio Largo, região Metropolitana de Maceió, foi sequestrada e encontrada morta na lateral de uma ponte que dá acesso a saída da cidade. A menina recebeu uma pancada na nuca.
Em março de 2015, em Palmeira dos Índios, um doente mental de 17 anos espancou dois sobrinhos: um de três anos e outro de cerca de um ano, que não resistiu e morreu ainda no local. A população revoltada com o caso espancou o doente mental até a morte.
Em dados divulgados no ano passado, pelo Conselho de Medicina, Em Alagoas, cerca de 40 crianças e adolescentes desaparecem todo mês;  estima-se que 50 mil crianças somem no país e cerca de 250 mil ainda não foram solucionados. No mundo esse número chega a 25 milhões.

 Mortes brutais e precoces

As causas das mortes brutais e precoces de crianças são as mais variadas: violência doméstica, rituais satânicos, operações policiais frustradas, assaltos, vingança, tiroteios, entre outras. A psicóloga Juliana Campos Correia avalia que a violência cometida contra crianças acontece (quando é a mãe que pratica), porque às vezes não foi uma gravidez desejada e bem-vinda.
“A pessoa que comete esse tipo de maldade pode ser que tenha algum problema psicológico ou social e acaba descontando em um ser indefeso e incapaz de se defender, o mesmo acontece com quem maltrata animais”, comenta.
Segundo Juliana Campos Correia, essa pessoas precisam de um tratamento terapêutico, mas tem que ser consentido: “A pessoa tem que querer, porque  para pessoas assim, essa atitude é normal, elas não sofrem com isso, são frias”, analisa.
A psicóloga diz ainda que, no caso do assassinato do pequeno Dyllan Taylor Soares pelo padrasto pode ter sido por ciúmes do garoto e a mãe do menino deixava-o em segundo plano. “Tem gente que é possessivo e ruim; por isso que a pessoa tem que ter cuidado com quem se envolve, para não sofrer as consequências”, observa.

Criminalista diz que violência não é método de aprendizado

O advogado criminalista Welton Roberto fez uma análise dos casos de violência cometidos contra crianças e disse que infelizmente os pais avaliam que são donos: “É a velha ideia de que por serem criança elas devem obediência cega e (os pais) utilizam do poder familiar para subjugá-la a todo tipo de tratamento”, destaca.
Segundo Welton Roberto, quando o governo lançou a polêmica "Lei da Palmada" proibindo a violência dos pais contra os filhos, ele viu muita gente dizendo que o Estado não tinha o direito de interferir na "educação" doméstica de seus filhos, “como se a utilização da violência fosse método de aprendizado”, observa.
Para o advogado criminalista, o resultado é este. “A desmesura da violência gerando mortes de crianças Brasil afora”. Ele explica que agora os acusados serão processados e punidos a depender do tipo penal que os enquadrarem: “ou maus tratos seguido de morte ou homicídio doloso”, pontua.
Perguntado se essas pessoas que praticam esse tipo de crime podem ser consideradas doentes sociais ou psicopatas, Welton Roberto responde que “a questão é cultural, pois os adultos se acham os donos das crianças, da mesma forma que os homens se acham donos das mulheres, por isso usam da violência”, pontua.

Professora diz que desmanche da instituição família desagregou sentimentos

A professora Lindair Morais Amaral, instrutora do ensino profissionalizante, disse que o caso do menino  Dyllan Taylor Soares foi um assassinato cruel. “Culturalmente falando, hoje o desmanche (a palavra é essa) da instituição família, desagregou sentimentos, hábitos e responsabilidades. O ser humano criado desgarrado, sem autoestima e sem valores, tem a sensação de ser responsável somente por si, o que o faz indiferente ou insensível ao outro”, avalia.  
Segundo ela, hoje as pessoas se juntam para viver, “não por motivos habituais como o amor por exemplo; dessas pessoas nascem outras que se tornam agregadas e não parte do todo. Então, se essa parte incomoda é subtraída sem qualquer sentimento de perda”, comenta.
Outra questão apresentada por Lindair Amaral é a baixa autoestima e autodesvalorização da classe mais pobre revelada no alto índice de homicídios, feminicídio e agora com maior frequência, a morte de indefesos pelos pais ou pessoas da “família”.
Segundo a professora, a falta de regras, de valores, de controles, punições efetivas, ações coletivas ou não, determinam que a vida não vale nada, como dizer “eu não tenho nenhum valor”.
Lindair Amaral destaca ainda que nenhuma criança chega à morte sem antes sofrer maus tratos constantes e vivenciar os horrores da conivência por vezes doentia de um casal. “Nenhuma criança morre sem que antes as pessoas em seu entorno tomem ciência de seu sofrimento e elas se calam. São cúmplices passivos da violência que de alguma forma também vivem e acabam por achar natural”, argumenta.
Segundo ela, as pessoas que hoje pedem justiça, muitas participaram ativamente do círculo vicioso familiar daquela criança (Dyllan Taylor Soares) e não fizeram nada, não era com elas ou não vai passar disso.
“Passou... para melhorar a consciência agora buscam justiça... Por que motivo não salvaram antes? Não queriam se envolver, precisavam se proteger. Como disse antes, sou responsável por mim, só por mim. Graças a Deus que a coletividade ainda é maior em busca da vida do enfrentamento, da tolerância zero e da fé, esta última abrange todos os outros sentimentos”, finaliza.

Mapa da Violência aponta aumento de homicídios contra crianças e adolescentes no país

A taxa de homicídios entre crianças e adolescentes no Brasil entre 1980 e 2010 cresceu 346%. Isso é o que aponta o novo Mapa da violência 2012 – Crianças e adolescentes do Brasil. O elevado índice de assassinatos de meninas e meninos colocou o país em 4° lugar em uma lista de países com maiores taxas de homicídio entre crianças e adolescentes.
Segundo a pesquisa, durante as três décadas analisadas, mais de 175 mil meninos e meninas de zero a 19 anos de idade perderam suas vidas para a violência. Somente em 2010, 8.686 crianças foram assassinadas no país.
O estudo alerta para o fato de que, nesses 30 anos, enquanto as taxas de mortalidade de crianças e adolescentes por causas naturais diminuíram, os índices de morte por fatores externos aumentaram.
Destaque para homicídios, acidentes de transporte e outros acidentes. Segundo o relatório, em 2010, essas três causas representaram mais de 90% do total de mortes de crianças e adolescentes por causas externas, ficando o assassinato em primeiro lugar (43,3% das mortes), seguido por acidentes de transporte (19,7%) e outros acidentes (19,7%). 
O que mais chama a atenção é o crescimento do número de assassinatos. Em 2010, 8.686 meninos e meninas foram mortos/as no país, representando uma taxa de 13,8 homicídios para cada 100 mil crianças e adolescentes. Dez anos antes, a taxa era de 11,9 para cada 100 mil.
"Dentre os 99 países com dados recentes nas bases estatísticas da Organização Mundial da Saúde, o Brasil, com sua taxa de 13,0 homicídios para cada 100 mil crianças e adolescentes, ocupa a 4ª posição internacional, só superada por El Salvador, Venezuela e Trinidad e Tobago”, destaca.
O documento ainda mostra a diferença das taxas por unidades da federação e municípios. De acordo com a publicação, enquanto estados como Piauí e São Paulo apresentam índices de homicídios de 3,6 e 5,4 para cada 100 mil, respectivamente; em Alagoas e Espírito Santo, essas taxas sobem para 34,8 e 33,8. 

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